Adalberto Campos Fernandes considera "absolutamente inadmissível" que Portugal não disponha de informação necessária para ajustar a matriz de risco da Covid-19, conforme propôs o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos.
Numa publicação partilhada nas redes sociais, o antecessor de Marta Temido disse que "aos 'especialistas' cumpre a responsabilidade de aconselhar, alertar e informar". E às autoridades, por sua vez, "cabe o dever de executar as medidas adequadas com base na melhor evidência".
"Em particular, ajustar a matriz de risco a realidade incorporando as pertinentes recomendações feitas recentemente pelo gabinete de crise da Ordem dos Médicos", enquadrou, completando: "A justificação de falta de dados para o não fazer é absolutamente inadmissível e prejudica o país".
O bastonário da Ordem dos Médicos, recorde-se, defende que o país precisa "claramente de uma nova matriz de risco" que harmonize o índice de transmissibilidade (Rt), a incidência e a gravidade.
Miguel Guimarães sustenta que a matriz de risco que está em vigor desde março "tem uma relação direta entre o Rt e a incidência". Já a gravidade é avaliada "através da pressão que os casos e o próprio Rt têm no Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente ao nível de internamentos, cuidados intensivos e óbitos". Porém, com a vacinação "esta ligação começou a perder-se", isto é, deixou de "haver uma relação tão direta entre a transmissibilidade, a incidência e a gravidade da situação".
Esta nova matriz de risco, que se quer "mais complexa", deveria incluir igualmente "a capacidade de resposta em função das variantes, a cobertura vacinal e as infeções em indivíduos vacinados" porque é "importante percebermos o que está a acontecer com novas variantes", defende o bastonário.
"É importante não persistir em manobras de diversão"
Adalberto Campos Fernandes, que também é especialista em Saúde Pública, manifestou ainda concordância com a posição tomada pelo Presidente da República que descartou a possibilidade de o país voltar a confinar.
"O Presidente da República defendeu que 'o não voltar atrás exige às pessoas viverem à medida disso', que, se querem que não se volte atrás, 'têm que ter bom senso no respeito das regras sanitárias', que aos eleitos para governar cabe decidir e aos especialistas 'chamar a atenção para o juízo que as pessoas devem ter'".
Ora, para Adalberto Campos Fernandes, "por mais surpreendentes que alguns possam considerar estas afirmações, elas fazem todo o sentido do ponto de vista político, social e técnico".
O antigo governante argumenta que o contexto epidemiológico que se vive hoje "é muito diferente pese embora o risco associado às novas variantes". E defende que os instrumentos disponíveis atualmente (vacinação, testagem e isolamento dos contactos) "permitem manter a recuperação da vida económica e social progressivamente e sem desnecessários recuos".
Por fim, Adalberto Campos Fernandes alerta que "é importante não persistir em manobras de diversão", avisando que, para além da fadiga pandémica, "corremos o risco sério da fadiga cívica por falta de crédito e de confiança".
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