Governo, Presidente da República e partidos reuniram-se esta terça-feira com os especialistas para avaliar a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, na sede do Infarmed, em Lisboa.
O encontro arrancou com uma breve introdução da ministra da Saúde, Marta Temido, sobre a ordem de trabalhos.
André Peralta Santos, da Direção-Geral da Saúde (DGS), foi o primeiro interveniente do dia, tendo destacado que é "muito notória" a redução do risco de hospitalização e de morte entre os infetados já vacinados.
"Apenas 2% dos internados em enfermaria estavam vacinados"
O especialista garante que os internamentos e a mortalidade "têm observado tendência crescente, se bem que muito atenuada por aquilo que é o esforço de vacinação", já que, em enfermaria, predominam as pessoas que ainda não estão vacinadas (só 2% dos internados já estavam vacinados).
Peralta Santos referiu ainda que há já uma tendência de estabilização na incidência em Lisboa e no Algarve, sendo que estas regiões poderão estar agora a atravessar ou já ter atravessado o pico da quarta vaga.
Ana Paula Rodrigues, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) falou de uma "epidemia a diferentes velocidades" e defendeu que é importante ter em causa o "aumento do número de internamentos em UCI de adultos jovens em relação ao número de casos observados".
Ainda assim, reconhece que a taxa de mortalidade nas pessoas mais velhas é superior em pessoas não vacinadas.
Variante Delta "tem representação nacional de cerca de 98,6%"
João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, focou-se na questão das variantes. O especialista referiu que a variante Delta "tem representação nacional de cerca de 98,6%" e é superior a 95% em todas as regiões do país. Além disso, é a variante dominante em todos os países da União Europeia.
"Ela espalhou-se muito rapidamente em todo o país", afirmou.
Quanto à variante Lambda, há ainda apenas dois casos no território nacional, pelo que esta variante não é "um motivo de preocupação no nosso país".
Também do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Ausenda Machado revelou que a efetividade da primeira dose da vacina é de 37% para a população entre os 65 e os 79 anos e de 35% para maiores de 80.
Com as duas doses da vacina, há pelo menos 14 dias, a efetividade aumenta para os 78% na população dos 65 aos 79 anos e para os 68% na população com mais de 80 anos.
Alívio de restrições em quatro níveis, consoante a taxa de vacinação
Andreia Leite, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, propôs alterações à avaliação de risco, ainda que mantendo os indicadores de transmissibilidade e incidência como indicadores centrais.
Não obstante, diz a especialista, "consideramos estar em condições de atualizar os limiares de incidência" para 480 casos por 100 mil habitantes, assim como o "limiar de internamentos em cuidados intensivos".
"Estes limiares devem ser revistos periodicamente, de acordo com a evolução da situação", defendeu. "A cobertura vacinal deve ser utilizada como indicador de planeamento do desconfinamento, uma vez que os efeitos da vacina se vão refletir noutros indicadores."
Raquel Duarte, da ARS Norte e do INSA, explicou a proposta dos especialistas para ir reduzindo as restrições em quatro níveis, consoante a taxa de vacinação. Neste plano, o país encontra-se no nível 1, ou seja, tem cerca de metade da população com o esquema vacinal completo. De acordo com a especialista, o nível quatro poderá implicar a imunidade de grupo.
Até ao nível 2, Raquel Duarte insiste em que se mantenham algumas medidas como a utilização da máscara em locais fechados, eventos públicos e sempre que não seja possível manter o distanciamento. O certificado digital e a ventilação adequada dos espaços também são, para já, para manter.
Em grandes eventos exteriores, Raquel Duarte destaca a importância de manter lugares determinados, estabelecer circuitos bem definidos. Caso contrário, estes não devem realizar-se nos níveis de risco 1 e 2.
Nos restaurantes, os especialistas sugerem que o limite seja de 6 a 8 pessoas por mesa no interior em qualquer dos níveis de risco. Já no exterior, o nível 1 prevê 10 pessoas por mesa, 15 pessoas no nível 2 e levantar o número limite no nível 3.
"Poderá ser um inverno feliz"
O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros, estima que, no outono, o país esteja "apenas com casos residuais" de infeções. No inverno, afirma, "podemos esperar uma nova onda - pequena".
Henrique Barros defende que "é fundamental a vacinação das crianças", uma questão que tem sido muito discutida nos últimos dias, e diz mesmo que "se não vacinarmos as crianças teremos um pico de casos".
"Poderá ser um inverno feliz", concluiu.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, a ministra da Saúde, Marta Temido, e representantes dos partidos políticos ouviram as intervenções de diversos especialistas.
Num momento em que o país tem registado nas últimas semanas máximos de novos casos, internamentos e óbitos desde março, quando Portugal deixava a pior fase da pandemia, o Governo tem reiterado que apenas vai tomar decisões após escutar os pareceres dos peritos.
Reveja aqui a reunião:
[Notícia atualizada às 11h59]
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