Ferro respeita ausência de luto pelo "grande comandante" do 25 de Abril
O presidente da Assembleia da República lembrou hoje Otelo Saraiva de Carvalho como "o grande comandante" do 25 de Abril e disse respeitar a decisão do Governo de não decretar luto nacional pela sua morte.
© Global Imagens
"A grande imagem de Otelo é do grande comandante do 25 de abril de 1974", disse Eduardo Ferro Rodrigues aos jornalistas, depois de ter estado no velório de Otelo Saraiva de Carvalho, na capela da Academia Militar, em Lisboa.
O presidente da Assembleia da República considerou que sem a ação de Otelo Saraiva de Carvalho, no comando das operações militares do 25 de Abril, Portugal não teria hoje a democracia que conhece e é essa "a grande imagem" do coronel, que morreu no domingo.
Questionado sobre se deveria ter sido decretado luto nacional pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, Ferro Rodrigues considerou que "não é uma questão que se coloque hoje" e lembrou que o militar não tem "qualquer papel na vida institucional portuguesa".
"Tem o papel histórico que é por todos conhecido e para ele próprio seria uma coisa completamente marginal haver ou não" luto nacional, acrescentou.
"Quem decide o luto nacional é o Governo e eu respeito a decisão e respeito e compreendo que neste momento é uma questão que não se coloca", sublinhou.
Eduardo Ferro Rodrigues afirmou ser "com emoção" que se despede de Otelo Saraiva de Carvalho, que disse ter conhecido bem nos anos que se seguiram ao 25 de Abril.
"Há um luto de todos aqueles que viveram com ele a experiência do 25 de Abril e dos anos posteriores e depois há muita gente que ainda hoje não se considera suficientemente esclarecida, apesar de Otelo ter sido amnistiado e de ter havido vários depoimentos dele em que nunca reconheceu qualquer responsabilidade nas ações dramáticas das FP 25 e, portanto, aquilo que eu quero é lembrar o Otelo do 25 de Abril e mais nada. E é com emoção que me despeço dele", afirmou Ferro Rodrigues.
Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu no domingo de madrugada aos 84 anos, no Hospital Militar, em Lisboa.
Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.
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