"O barco resistiu à tormenta e tem condições para partir por águas safas"
António Costa foi entrevistado na TVI, na segunda-feira à noite, onde anunciou que o Governo está a trabalhar em desdobramentos nos escalões de IRS, e reiterou que só depois de 2023 decidirá se vai continuar na liderança do PS. Mas deixou desde já uma garantia: não apoiar nenhum candidato à sua sucessão, nem criará "um deserto" político à sua volta. Também a pandemia esteve em destaque, com Costa a vincar que "o barco" superou a "tormenta".
© Reuters
País António Costa
Um dia depois de Portugal ter atingido a meta de 85% da população vacinada com pelo menos uma dose da vacina e uma semana depois do congresso socialista de onde saiu reeleito com 94% dos votos, António Costa esteve na TVI24, à conversa com Miguel Sousa Tavares.
O primeiro-ministro começou por salientar que, ao contrário do que se esperava, o país está a resistir à pandemia da Covid-19, não só graças à vacinação, como à resiliência das empresas e à ajuda das medidas adotadas pelo Governo.
"Tivemos momentos em que tememos que fossemos ao fundo, mas agora estamos a chegar a uma fase, graças à vacinação, de controlo da pandemia. Ela não desapareceu, vai continuar a andar pelo mundo, os riscos da multiplicação das variantes permanecem, mas vamos atingir um ponto de segurança. As nossas empresas mostraram uma resiliência muito grande. Felizmente, a nossa sociedade, a nossa economia, as nossas empresas resistiram melhor do que pensávamos e, modéstia à parte, as medidas adotadas pelo Governo deram um contributo muito positivo", explicou, afastando a ideia, lançada por Sousa Tavares, de que o Executivo está em modo 'Titanic'.
"Nós temos noção dos desafios que temos pela frente, da enorme responsabilidade que é podermos executar os recursos extraordinários que a Europa nos disponibilizou mas, felizmente, não estamos nem no Titanic, nem o barco está a ir ao fundo. Pelo contrário, o barco demonstrou resistir bem à tormenta e temos boas condições para partir por águas safas, com ventos de feição", atirou, acrescentando que "fomos o país da União Europeia que mais cresceu economicamente no último trimestre".
Quanto ao aumento de casos no Natal, depois de o Governo ter aliviado algumas medidas, o governante admitiu que não teria prometido o que aconteceu "se a variante Alfa já estivesse disseminada no país. Se soubéssemos o que vinha aí".
Congresso do PS
Já questionado sobre o facto de "todos parecerem muito felizes" no Congresso do PS, António Costa salientou que, perante um desafio de governabilidade como a que tem o atual Executivo, as diferenças de opinião são esvanecidas e passam para segundo plano.
"O PS é um partido que teve um enorme responsabilidade de governar o país num momento muito desafiante e muito empolgante, muito exigente como aquele que estamos a viver, por isso, é natural que nos concentremos naquilo que é essencial. As diferenças de opinião são menores do que quando nos podemos dispersar. Estamos muito concentrados em controlar a pandemia, na vacinação e em conseguir transformar estruturalmente muitos dos problemas que nos têm marcado nos últimos anos", realçou.
Serviços Públicos
Sobre os gastos do Estado que, segundo Sousa Tavares, nunca foram tantos, António Costa respondeu que "esta pandemia nos ajudou a ver bem que os serviços do Estado são absolutamente essenciais".
"Nós ouvimos falar durante anos do caos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas quando esta pandemia nos atingiu foi o SNS que nos salvou. Nós tivemos mais de um milhão de pessoas, tivemos e continuamos a ter, e 94% foram recuperadas graças à qualidade dos nossos profissionais de saúde e do SNS. Quando tivemos que fechar as escolas, todos percebemos muito melhor que uma escola pública encerrada, a ausência de ensino presencial, apesar do esforço que foi feito, prejudicou o desenvolvimento das crianças e dos jovens e aumentou as desigualdades", afirmou.
"Sem um Estado forte, sem uma Segurança Social forte, o Estado nunca teria sido capaz de responder com a força como respondeu há sustentação do rendimento, do emprego e das empresas", garantiu ainda sobre o mesmo assunto.
Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)
Já sobre o PRR, Costa revelou que "a aplicação de fundos europeus tem sido boa". "Temos requalificado a Estrada Nacional 14, que era uma reivindicação antiga. Quando Estado requalifica sistema de saúde e faz avanços informáticos na Justiça, é a pensar nos cidadãos", sublinhou, recordando que este plano "teve o maior debate público da história e vai ser executado independentemente de o PS ganhar ou não em cada autarquia. Portugal até agora não tem desperdiçado fundos europeus".
Saída em 2023?
Recentemente, o Expresso avançou que António Costa sai do Governo em 2023, algo que o primeiro-ministro não negou, nem confirmou. Apesar disso, o governante admitiu que vai consultar a mulher antes de tomar uma decisão.
"Acabo de ser reeleito secretário-geral e tenho mandato até 2023. Tenho de estar concentrado na minha missão a 200%. Em 2023 vou fazer aquilo que qualquer responsável político deve fazer. Tenho de falar com a minha mulher para vermos como é a nossa vida. Não vou fazer nenhum tabu", asseverou.
Durante a entrevista houve ainda tempo para comentar as relações com os outros partidos, a TAP e o Aeroporto do Montijo.
Sobre o primeiro tema, António Costa disse que não gosta de "hostilizar ninguém" e que o essencial é "preservar a nossa democracia".
Já sobre a TAP, o governante garantiu que a companhia aérea portuguesa está a "fazer o seu caminho" e recordou que esta "já retomou 50% da sua atividade".
Quanto ao Aeroporto do Montijo, o primeiro-ministro lamentou que se continue a discutir a localização deste quando decidiu "seguir a escolha do Governo anterior, que nem era PS".
"O novo aeroporto vai ter necessariamente que haver. Infelizmente o PSD mudou de liderança e a posição também mudou. Vai ser feita uma nova avaliação ambiental estratégica. O país precisa urgentemente deste aeroporto", vincou, antes de terminar a entrevista.
Costa quer desdobrar escalões do IRS no OE2022
"Estamos neste momento a fazer um trabalho muito sério para identificar a possibilidade de no próximo Orçamento do Estado para 2022 fazer aquilo que não conseguimos fazer este ano, que é mais um desdobramento de escalões", declarou o primeiro-ministro.
Neste ponto, defendeu que a prioridade vai ser no sentido de serem introduzida mudanças em dois escalões de rendimentos do IRS: o terceiro e o sexto. "No terceiro escalão, que cobre rendimentos entre os 10 mil e os 20 mil euros, temos uma enorme diferença. Depois, há o sexto escalão, entre os 36 mil euros e os 80 mil euros, onde há uma diferença gigantesca", apontou.
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