"Eu acho que tudo o que sejam novas ofertas formativas, mais competição, mais contribuição para o tecido educativo e de investigação nacional, é uma mais-valia para o país", disse em entrevista à agência Lusa António Medina de Almeida.
A poucos dias da inauguração da primeira faculdade privada de Medicina, o diretor recordou o processo moroso até à acreditação do mestrado integrado da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e a oposição de várias associações, numa altura em que o tema da formação médica voltou a estar em debate.
"Eu prefiro olhar para os comentários que foram feitos não tanto como uma crítica, mas como uma preocupação legítima que todos temos, de que as ofertas novas sejam de qualidade", admitiu o responsável.
Ao longo dos quase três anos em que se prolongou o processo de acreditação do novo curso, levantaram-se vozes críticas, que argumentavam que o alargamento da oferta ameaçaria a qualidade da formação médica, que sobrecarregaria as instituições de saúde formadoras da região de Lisboa, ou que as necessidades do país em termos de recursos humanos não estavam a ser consideradas.
Alguns dos mesmos argumentos voltaram a ser invocados recentemente, depois de o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ter defendido o alargamento do ensino da medicina até 2023, com a abertura de três novos cursos, em Aveiro, Vila Real e Évora.
Comentando o recente debate, que não tem sido muito diferente daquele que há cerca de um ano tinha no seu centro o novo curso da UCP, o diretor da Faculdade partilhou a visão do ministro Manuel Heitor, sublinhando os objetivos da sua própria escola.
"O nosso objetivo é, principalmente, preenchermos e adicionarmos oferta educativa em Portugal", sublinhou António Medina de Almeida, para quem uma nova e diversificada oferta formativa é também um contributo para aumentar a riqueza educativa do país.
Por outro lado, o também diretor do serviço de hematologia clínica do Hospital da Luz em Lisboa, considera que aumentar a oferta e, no caso concreto da UCP, alargá-la ao setor privado, é igualmente uma forma de manter em Portugal muitos bons alunos.
"Nós temos muitas faculdades excelentes em muitos pontos do país, mas continuamos a ter muitos alunos, muito bons, que vão para fora estudar Medicina. Com esta Faculdade, queremos não só reter o talento que perdemos quando os alunos vão para fora, mas também diversificar a oferta formativa", defendeu.
Na semana passada, declarações do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior geraram polémica também por Manuel Heitor ter sugerido que a formação de um médico de família não precisa de ter a mesma duração ou complexidade do que outras especialidades.
Questionado sobre a posição da Católica sobre este tema, e da Faculdade de Medicina em particular, o diretor da instituição assegurou que a Medicina Geral e Familiar será "uma das grandes apostas" do novo curso.
"Nós reconhecemos que os cuidados de saúde primários, com a proximidade que podem ter das pessoas, são muito, muito importantes. Vamos ter um tempo grande de estágios em unidades de saúde familiar e vamos focar muito na prevenção primária", antecipou.
Sobre as declarações do ministro, António Medina de Almeida admitiu que "os anos de formação talvez não precisem ser tão largos, mas a dificuldade mantém-se lá e é muito importante".
Numa altura em que se ultimam os preparativos para a inauguração da Faculdade de Medicina, sediada no 'campus' de Sintra, em Rio de Mouro, António Medina de Almeida respondeu também a algumas das críticas e ressalvas de que o novo curso foi alvo.
Referindo a parceria com o Grupo Luz Saúde, assegurou que os hospitais não seriam sobrecarregados pelos novos alunos, da mesma forma que a experiência dos estudantes não seria limitada, já que terão também contacto com o Serviço Nacional de Saúde, através dos centros de saúde da região de Lisboa e do Hospital Beatriz Ângelo.
O responsável reafirmou ainda a qualidade da formação da Católica, referindo como um dos principais destaques a proximidade entre alunos e docentes, com algumas aulas em que as turmas são constituídas por 10 pessoas, a integração de apenas dois estudantes em cada equipa médica nos estágios clínicos, e a atribuição de um mentor a cada aluno, que o acompanhará ao longo dos seis anos do curso.
A Faculdade de Medicina da UCP será inaugurada na segunda-feira, que marca também o primeiro dia do ano letivo, numa cerimónia em que estarão presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.
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