Francisco Louçã defende que "é importantíssimo perceber" se houve em Portugal práticas semelhantes às que de que fala o relatório divulgado esta semana e que revela que mais de 300 mil menores foram abusados pela Igreja Católica francesa durante 70 anos.
No espaço habitual de comentário às sextas-feiras na SIC Notícias, o fundador do Bloco de Esquerda criticou o "manto de silêncio" dos bispos portugueses e defendeu que estes "deveriam perceber que é do seu primeiro interesse ter a certeza que não há crimes" semelhantes na Igreja em Portugal "ou que os crimes que ocorreram são investigados e punidos também".
"A Igreja portuguesa, neste contexto, mantém-se particularmente silenciosa", apontou. "Poderemos admitir que em Portugal nunca tenha acontecido nada do que se passou em França, mas é duvidoso que assim seja."
Para o comentador, é "importantíssimo" averiguar se aconteceram casos de abuso sistemáticos em Portugal "porque é uma questão de reparação, é uma questão de justiça, é uma questão de respeito e é uma questão de proteção da própria instituição porque a Igreja promove uma ideia, uma fé... E se na sombra dessa prática existe um crime continuado, é uma destruição da sua natureza", defendeu.
Francisco Louçã considera ainda que "há uma relação óbvia" entre a condição do celibato e a ocultação destes crimes.
"Isto é um problema da Igreja Católica, é impossível e hipócrita continuar a fingir que não há uma relação entre a natureza desta violência sexual e as condições falsas do celibato dos padres", defendeu.
Ainda assim, para o comentador, "é muito importante que o Papa Francisco tenha tido a coragem" de obrigar à "revelação de sublinhar a proteção das vítimas".
Elaborado por uma comissão independente e apresentado na passada terça-feira em Paris, o relatório concluiu que mais de 300 mil menores foram abusados e agredidos em instituições da Igreja Católica francesa, responsabilizando diretamente clérigos e religiosos por 216 mil vítimas, entre 1950 e 2020.
De acordo com o documento, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram abusados ou agredidos sexualmente por clérigos católicos ou religiosos.
O número de vítimas sobe para 330 mil quando considerados "agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica", nomeadamente nas capelanias, professores nas escolas católicas ou em movimentos juvenis.
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