Como admitiu o secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Barbosa, em 12 de outubro, a Igreja Católica em Portugal vai avançar com a constituição de uma comissão nacional de coordenação das comissões diocesanas de proteção de menores e adultos vulneráveis.
Esta comissão terá como objetivo definir critérios e procedimentos comuns às 21 comissões diocesanas, bem como prestar-lhes apoio, nomeadamente na gestão da informação.
A criação de um manual de procedimentos comum a todas as dioceses e organismos da Igreja perante denúncias de abuso sexual será um dos objetivos do grupo coordenador a ser criado na Assembleia Plenária do episcopado, que decorrerá em Fátima até quinta-feira, 11 de novembro.
No final da reunião do Conselho Permanente da CEP, em 12 de outubro, o padre Manuel Barbosa disse que "a Igreja reconhece a gravidade da situação" dos abusos no seio da Igreja e "continua a tratá-la com toda a seriedade".
Além da constituição do grupo coordenador, a Conferência Episcopal, "se julgar conveniente, poderá tomar outras medidas, sempre no propósito de rejeitar qualquer encobrimento de casos".
Alguma expectativa tem sido criada, entretanto, em torno da possibilidade de, à semelhança do que aconteceu já noutros países, em Portugal vir a ser também constituída uma comissão independente que investigue a situação dos abusos no seio da Igreja no país.
O bispo de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, já admitiu que "a Igreja está disposta a olhar e a realizar com determinação todos os esforços necessários para pôr fim a estes dramas, a esta chaga que a atingiu profundamente, quer com o cuidado das vítimas, no acolhimento, do apoio humano, psicológico, espiritual e de reparação, quer atendendo ao presente numa atitude preventiva, de prevenção, e sem contemplações".
"Não há contemplações neste campo e todas as ações que tiverem de ser feitas pelo reconhecimento da verdade deverão ser feitas", acrescentou António Marto, em conferência de imprensa no âmbito da peregrinação de 12 e 13 de outubro ao Santuário de Fátima.
Abordando na ocasião a divulgação de um relatório segundo o qual mais de 300 mil menores terão sido abusados e agredidos em instituições da Igreja Católica francesa, António Marto evocou as palavras do Papa Francisco - "a dor, tristeza, a vergonha" - e o "seu apelo a fazer todos os esforços", para que "tais dramas não se possam repetir".
Mais recentemente, em entrevista ao Expresso, foi a vez do presidente da CEP, o bispo de Setúbal, José Ornelas, a admitir que está a ser seguido "o caminho que está a fazer a Igreja inteira de tolerância zero para atos deste género".
"Temos pena de ter de enfrentar coisas destas, mas não temos medo! Pior é não o fazer, porque isso é traição ao que é ser Igreja", adiantou o prelado.
Além da questão da "proteção de menores e adultos vulneráveis", os bispos portugueses vão debater também, na reunião de Fátima, o "itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, crianças e adolescentes", o sínodo dos bispos que o Papa Francisco abriu em Roma no início de outubro e a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
Durante os dias de reunião, haverá ainda um período de formação sobre o Livro VI do Código de Direito Canónico, sob a orientação de D. Juan Ignatio Arrieta, secretário do Conselho Pontifício para a Interpretação dos Textos Legislativos
Com a Constituição Apostólica "Pascite Gregem Dei", o Papa Francisco reformou o Livro VI do Código de Direito Canónico, um trabalho de revisão iniciado com Bento XVI, através do qual "são sancionados novos delitos".
O novo texto é um instrumento corretivo mais ágil, a ser usado prontamente para "evitar males mais graves e acalmar as feridas causadas pela fraqueza humana", segundo o portal de notícias do Vaticano, Vatican News. O novo texto entrará em vigor em 08 de dezembro deste ano.
A Assembleia Plenária da CEP vai ficar marcada também, na quinta-feira, 11 de novembro, às 08:00, pela celebração pelos bispos, na Capelinha das Aparições do Santuário de Fátima, de uma missa pelas vítimas da pandemia de covid-19.
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