"No contexto da pandemia, sem um acesso da população mundial a vacinas e a recursos para todos, as melhores práticas dos países com mais possibilidades económicas acabarão sempre por naufragar em novos contágios, com estirpes mais complicadas do vírus", disse o também bispo de Setúbal, José Ornelas, na abertura da 201.ª Assembleia Plenária da CEP, que hoje começou em Fátima.
Para o prelado, "sem a globalização da justiça e da solidariedade, o mundo globalizado torna-se numa confusão de tensões contagiosas, miséria, migrações perigosas e depredação do planeta".
Na intervenção que proferiu na abertura do plenário do episcopado português, José Ornelas manifestou "um profundo agradecimento a quantos tornaram possível" a evolução positiva face à pandemia, "a começar por todos os profissionais de saúde que, incansavelmente e à custa da sua própria saúde, cuidaram daqueles que foram atingidos por esta enorme crise".
"Exprimimos igualmente a todos aqueles e aquelas que, durante este longo condicionamento, na investigação científica, no exercício da autoridade a todos os níveis, nos movimentos de solidariedade e, de modo especial, nas comunidades eclesiais, mostraram o lado bom da humanidade e da fé cristã que se torna próximo e solidário com quem sofre, ajuda os mais frágeis e dá motivos e condições de esperança para um mundo melhor", afirmou.
Os bispos católicos portugueses, no âmbito desta Assembleia Plenária, têm previsto celebrar na próxima quinta-feira, 11 de novembro, às 08:00, na Capelinha das Aparições do Santuário de Fátima, uma missa pelas vítimas da pandemia de covid-19.
Ainda na sessão de abertura dos trabalhos da reunião, o presidente da CEP abordou outro tema global que tem estado em foco -- a conferência sobre alterações climáticas, em Glasgow -, lembrando que "solidariedade, convergência de vontades e atitudes concretas era o que se pretendia" daquele encontro.
"Embora de maneira não suficiente para fazer face à enormidade da ameaça que paira sobre o planeta, a evidência científica e a constatação empírica não deixam dúvidas de que não se podem perder estas derradeiras oportunidades para conter ao máximo, não as nuvens que pairam sobre o horizonte de amanhã, mas a dramática realidade das catástrofes que chegam, hoje e cada vez mais, às nossas casas, pelos noticiários de todo o mundo", disse José Ornelas.
Segundo o bispo de Setúbal, "a voz do Papa Francisco desafia (...) a todos a colocar na agenda prioritária da Igreja e do mundo este tema fundamental para o futuro do planeta".
Os bispos católicos portugueses estão reunidos desde hoje em Fátima, com a questão dos abusos no seio da Igreja em cima da mesa, sendo dada como certa a criação de um grupo coordenador nacional para tratar do tema.
O episcopado vai debater também o "itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, crianças e adolescentes", o sínodo dos bispos que o Papa Francisco abriu em Roma no início de outubro e a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
Durante os dias de reunião, haverá ainda um período de formação sobre o Livro VI do Código de Direito Canónico, sob a orientação de Juan Ignatio Arrieta, secretário do Conselho Pontifício para a Interpretação dos Textos Legislativos.
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