"A perceção generalizada no sistema é a de que não se irá voltar ao momento pré-pandémico, uma vez que foi posta em marcha uma reforma que se traduziu num salto qualitativo muito significativo", lê-se no relatório divulgado na terça-feira.
No estudo solicitado pela Assembleia da República, o CNE procurou fazer, junto de um conjunto de universidades e politécnicos, um balanço do ensino a distância imposto pela pandemia nos últimos dois anos letivos e as conclusões são positivas.
"Os líderes institucionais (...) são unânimes em afirmar que o ensino superior respondeu aos desafios da pandemia de uma forma muito positiva em todos os domínios do seu funcionamento" relata o órgão consultivo do Ministério da Educação.
A avaliação é de tal forma favorável que, segundo o CNE, as instituições veem essa experiência recente como um catalisador de inovação do sistema de ensino superior que não voltará a ser o mesmo.
A viragem é igualmente defendida pelo CNE, que defende que as instituições "podem e devem tirar partido da aceleração digital, melhorando as metodologias de ensino e de avaliação, dando mais ênfase às aulas de debate, utilizando as aulas à distância como base para a realização de trabalhos de pesquisa, os quais deverão complementar os exames finais".
Segundo o CNE, a mudança de paradigma para um modelo de ensino mais híbrido parece ser também do agrado dos próprios estudantes.
Ainda no âmbito do ensino e aprendizagem, os resultados do estudo apontam que, no entender das instituições, deve haver também uma aposta na flexibilização dos currículos "para que os estudantes possam adaptar o seu currículo àquilo que consideram pertinente para a sua vida futura, o que estimulará, também, a sua motivação e interesse".
Por outro lado, o CNE sublinha que, apesar desta dimensão mais positiva, a pandemia expôs também fragilidades do ensino superior que devem ser agora acauteladas.
Em concreto, é apontada a necessidade de um investimento substancial na ação social que, apesar de ter conseguido dar resposta nos últimos dois anos, deve ser reforçada atendendo à previsão de que as dificuldades dos estudantes e das famílias persistam e possam mesmo ser agravadas.
Considerando que esse reforço deve estar no topo das prioridades, as instituições defendem medidas como o incremento dos apoios, a alteração à legislação de atribuição de bolsas de estudo, a criação de fundos de emergência generalizados e de um apoio específico para estudantes internacionais e o desenvolvimento de um programa de apoio social direto para estudantes mais carenciados.
Defendem ainda uma maior flexibilidade na definição dos apoios financeiros adequados ao contexto de pandemia e a garantia de que todos os estudantes dispõem dos recursos informáticos necessários à frequência das aulas no regime de ensino à distância.
Ao longo deste período, a pandemia não afetou de igual modo os universitários e, segundo o relatório, alguns grupos reportaram dificuldades acrescidas, designadamente os estudantes internacionais e em programas de mobilidade, por terem menos apoio através de redes complementares.
Por outro lado, os estudantes bolseiros foram os menos afetados pela pandemia "devido à sua identificação no sistema e à existência de mecanismos de apoio previamente consolidados".
Numa avaliação global, o CNE reitera que o ensino superior conseguiu manter o seu funcionamento com bastante eficácia, algo que só foi possível "devido à capacidade de adaptação, à dedicação e à resistência das instituições do ensino superior e dos diferentes grupos".
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