O ministro Eduardo Cabrita demitiu-se hoje do Governo, no dia em que conhecido o despacho de acusação do Ministério Público visando o motorista do automóvel em que seguia, no caso do trabalhador atropelado mortalmente na A6.
Numa conferência de imprensa marcada para a tarde desta sexta-feira, Eduardo Cabrita disse que "mais do que ninguém" lamenta a "perda irreparável" no atropelamento na A6, voltando a condenar o "aproveitamento político" que o caso suscitou desde então.
Seis meses depois, e conhecidos os termos do despacho de acusação, Eduardo Cabrita reforçou que "tal só reforça a minha confiança no Estado de Direito, no funcionamento das instituições". Na declaração da sua demissão, o ministro vincou que "só a lealdade", "o tempo e as circunstâncias que enfrentávamos há seis meses" o determinaram a prosseguir nas funções "neste verão tão difícil".
"É por isso que hoje não posso permitir que este aproveitamento político absolutamente intolerável seja utilizado no atual quadro para penalizar a ação do Governo, contra o primeiro-ministro, ou mesmo contra o PS. Por isso entendi solicitei exonerar hoje as minhas funções de ministro da Administração Interna ao senhor primeiro-ministro", revelou.
"Agradeço absolutamente ao primeiro-ministro, António Costa, a oportunidade de partilhar estes seis anos de dedicação intensa à causa pública. Por todos estes quatro anos que me tornaram, desde há alguns dias, o ministro da Administração Interna com o mais longo mandato em democracia", frisou.
Eduardo Cabrita considerou o Ministério da Administração Interna um "ministério particularmente difícil e sujeito diariamente à incerteza e ao imprevisto".
O ministro demissionário agradeceu a "solidariedade e o apoio pleno" do primeiro-ministro, além de ter dedicado "uma palavra especial" aos secretários de Estado com quem trabalhou ao longo destes seis anos e manifestado um "profundo reconhecimento" aos elementos das forças e serviços de segurança e estruturas de proteção civil.
"É com profunda convicção que desejo ao primeiro-ministro, António Costa, e a todo Governo as maiores felicidades e o maior sucesso na difícil missão que continuarão a desempenhar no controlo da pandemia, recuperação da economia e criação de condições para que Portugal tenha um quadro de governabilidade que permita formar um caminho mais justo e solidário", disse.
Antes de anunciar a decisão, numa conferência sem direito a perguntas dos jornalistas, Eduardo Cabrita fez um balanço do seu trabalho ao longo dos últimas quatro anos, defendendo que "tem trabalhado intensamente para assegurar que Portugal é um país seguro nas suas várias dimensões", enaltecendo os resultados positivos na área dos incêndios florestais e na segurança interna do país.
Na dimensão externa, prosseguiu, "Portugal afirmou-se no tema mais divisivo da agenda europeia, na forma como abordou o tema das migrações".
No balanço da sua governação, Cabrita destacou também o papel nos dois anos "tão difíceis" durante a pandemia.
O motorista do carro onde seguia o ministro da Administração Interna e que atropelou mortalmente um trabalhador na A6 foi acusado de homicídio por negligência, segundo despacho de acusação do Ministério Público hoje divulgado.
"O Ministério Público deduziu acusação, requerendo o julgamento por tribunal singular, contra um arguido, o condutor do veículo automóvel interveniente num acidente de viação ocorrido na A6, no dia 18 de junho de 2021, imputando-lhe a prática, em concurso, de um crime de homicídio por negligência e de duas contraordenações", refere uma nota publicada no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora.
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