Esta sexta-feira foi marcada pela demissão do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, após a divulgação do despacho do Ministério Público, relativamente ao acidente que vitimou um homem na A6. No seu espaço de comentário político na SIC Notícias, Francisco Louçã considera que a decisão se trata de uma medida para salvar a imagem do Governo e proteger o Partido Socialista (PS), a menos de dois meses das eleições antecipadas.
“Como se percebeu, e como ele não escondeu, é sobretudo por uma questão de agenda política; não houvesse eleições e porventura o ministro não se teria demitido, ou, pelo menos, de certeza que não teria dito que era para salvar a imagem do Governo e proteger o seu partido neste contexto”, esclarece o fundador e antigo coordenador do Bloco de Esquerda (BE).
Ainda assim, o bloquista salienta que o momento se deve também ao “alívio de não ter sido acusado”, já que o despacho de acusação do Ministério Público hoje divulgado indiciou apenas o motorista do carro onde seguia, e que atropelou mortalmente Nuno Santos, na A6, por homicídio por negligência.
“Esta gestão política tornou-se dominante deste ponto de vista e é um desastre para o Governo e para Eduardo Cabrita”, acrescenta o bloquista.
Francisco Louçã remata ainda que as declarações de Eduardo Cabrita sobre o caso mostravam-se “muito desinteressadas” em relação à vítima mortal, parecendo primarem pela “preservação da sua própria imagem, que estava a ser destruída por esta abordagem política conspiratória”.
“Que um ministro tente transformar um debate político sobre as suas atuações como uma permanente conspiração contra si próprio é uma prova de imensa debilidade, e é espantoso que o Governo e o primeiro-ministro lhe tenham permitido a impunidade neste tipo de declarações sucessivas, que aparecem como o que são, como muito desinteressadas ou até desumanas em relação a esta vítima mortal, e como muito atentas à preservação da sua própria imagem”, atira o antigo dirigente do BE.
Acima de tudo, o caso “era explosivo para uma campanha eleitoral e para António Costa e, portanto, ele acabou por se afastar”, diz o bloquista, ainda que afirme que Cabrita se demite “por razões de inconsequência política e por manipulação de um discurso político que é destrutivo da autoridade que um ministro tem de ter”.
Louça recorda também o caso do assassinato do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk às mãos de inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), no aeroporto de Lisboa, sublinhando que, a seu ver, “teria justificado a demissão do ministro”.
“Não sendo ele responsável, ele ocultou responsabilidades políticas, porque só nove meses depois é que demite a diretora do SEF e, aliás, começa uma reforma tão radical como a extinção – este prazo político é inaceitável”, sustenta, considerando que Cabrita “não o quis fazer para fazer um jogo político institucional, que depois desabou”.
“O ministro falhou de todos os pontos de vista; isso tornou-se um desastre para o Governo e, por isso, ele sai”, remata.
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