Francisca Van Dunem foi o nome escolhido por António Costa para assumir a pasta da Administração Interna, na sequência da demissão de Eduardo Cabrita. A solução de transição, até às eleições antecipadas de 30 de janeiro, surge alguns dias depois de a ministra da Justiça ter revelado que tinha vontade de deixar o Executivo.
A governante explicou agora, no programa 'Grande Entrevista', da RTP, que o primeiro-ministro pediu-lhe para assegurar a pasta da Administração Interna até ao período eleitoral "num contexto que era de alguma dificuldade, sendo certo que seria dos membros do Governo, pela natureza da pasta que ocupava e pelo percurso profissional daqueles que mais afinidades poderia ter com esta área".
Confrontada com os casos que envolveram o seu antecessor e que culminaram na sua demissão, Francisca Van Dunem afastou a ideia de estar a assumir a liderança de um ministério "desgastado" e promete fazer tudo ao seu alcance para que estes dois meses corram dentro das "expetativas".
"Eu não sei se o ministério está desgastado na perceção dos portugueses. Aquilo que sei é que assumi esta função com muita honra e sobretudo muito impelida com uma ideia de cumprimento de dever e trabalharei na Administração Interna com o mesmo nível de empenho com que assumo as minhas responsabilidades na área da Justiça. Portanto, estou convencida que, ao longo destes dois meses, as coisas irão correr de acordo com as expetativas", respondeu, assumindo que, basicamente, o que vai fazer é uma manutenção da pasta.
"Nós temos, neste momento, um programa do Governo que separa completamente as missões da Justiça das da Segurança. Portanto, o programa está definido, não vai ser alterado, obviamente, a dois meses das eleições", esclareceu, acrescentando que as vozes que criticaram a junção dos dois cargos "desconhecem parte da realidade subjacente" destes dois ministérios. "Não consigo sequer perceber essa ideia de conflito", atirou ainda sobre o mesmo assunto.
Excesso de velocidade? "As regras são para se cumprir"
Sobre o excesso de velocidade na estrada, que uma reportagem demonstrou em que andam alguns ministros, Van Dunem garantiu que "nunca" teve problemas com isso e que não teve sequer a necessidade de dar indicações ao seu motorista para reduzir a velocidade.
"Aliás, o meu motorista agora é que - na sequência da minha tomada de posse na área da Administração Interna - me disse: 'Senhora ministra, agora maior cuidado ainda porque estou a conduzir a ministra da Administração Interna'. E eu disse-lhe: 'O cuidado é o mesmo, portanto, continuará a cumprir as mesmas regras'", contou, clarificando que "as regras são para se cumprir, são iguais para todos e não vamos agora criar dificuldades".
Apesar de assumir que teve conhecimento das reportagens em questão, a ministra afiançou que não tem "nenhuma condição" para se pronunciar sobre isso.
Abandonar o Governo? "As expectativas que tinha foram alteradas pelas circunstâncias"
Questionada sobre a entrevista em que admitiu ter pensado em abandonar o Governo, Francisca Van Dunem salientou que não se trata de se ter "cansado" do ministério da Justiça, explicando porque não o fez.
"Estamos a falar de tempos diferentes. Em 2019, quando inicio funções para este Governo, num segundo mandato, é um segundo mandato em que a expectativa que tenho é de não cumprir até ao fim. A grande expectativa que tinha era de cumprir a presidência portuguesa na UE [...] e mantive-me também por essa razão e a expetativa que tinha era que, uma vez terminada a presidência portuguesa, era possível eventualmente haver uma alteração. Essa era uma expectativa pessoal que eu tinha. No entanto, a situação mudou", relatou, recordando que os seus planos foram adiados pela chegada da pandemia.
"Há uma alteração completa das condições em que estávamos a operar e há uma necessidade de o Governo estar todo a 100% e haver uma continuidade para ser possível enfrentar as dificuldades que a pandemia nos trouxe. Portanto, as expectativas que tinha foram alteradas pelas circunstâncias", clarificou.
Apesar disso, Van Dunem garantiu que não ficou "no Governo com a cabeça fora do Governo".
"Nunca estive em nenhum posto com a cabeça fora deste posto. Enquanto estou no Governo, estive no Governo e enquanto estiver no Governo, estarei com a cabeça no Governo, fixada nas missões que me são apontadas para realizar no Governo", rematou.
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