Gouveia e Melo pensa numa candidatura a Belém? "O futuro a Deus pertence"
Gouveia e Melo, o submarinista que emergiu de desconhecido a "herói" da vacinação, foi eleito personalidade nacional de 2021 pelos jornalistas da Lusa e também pelo Diário de Notícias. Fechado o capítulo da vacinação contra a Covid-19, o vice-almirante admite agora que o "futuro a Deus pertence", quando questionado sobre se pensa numa candidatura a Presidente da República.
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País Gouveia e Melo
O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo foi eleito personalidade nacional de 2021 pelos jornalistas da Lusa, num ano em que passou de quase desconhecido a "herói", devido à coordenação do processo de vacinação contra a Covid-19.
Desde então, tem afastado a ideia de uma carreira política, tendo chegado a afirmar, ainda na pele de responsável da Task-Force, que fechava essa porta.
"Qualquer ser que apareça como o salvador da pátria é mau para a democracia porque a democracia salva-se em conjunto com todos os atores do sistema democrático, não é a personagem que salva a democracia. Não quero ser essa pessoa. Quero ser o militar que cumpriu o seu papel quando foi chamado. Estou muito honrado por me terem dado esta missão, mas não quero ser político", afirmou em agosto e repetiu noutras ocasiões sempre que a questão lhe foi colocada.
Todavia, esta quarta-feira, dia 15 de dezembro, o também eleito personalidade do ano pelo Diário de Notícias demonstrou que, afinal, essa porta não está tão fechada assim.
À pergunta "já pensou em ter a coragem se se candidatar à Presidência da República nas próximas eleições?" Gouveia e Melo respondeu: "Têm-me aconselhado a dizer que dessa água não beberei, que é uma frase muito forte que não se deve dizer nunca. Tenho uma carreira militar que pretendo continuar. O futuro só a Deus pertence".
Salvaguardando que tentou "despolitizar o processo de vacinação enquanto coordenador da Task Force" e que as declarações que fez nesse contexto foram "precisamente para evitar que se entrasse numa guerra política", Gouveia e Melo acrescentou: "Não sou um ator político. Sou um ator que tem uma missão e a única coisa em que tem de estar focado é nessa missão e não estar a pensar no que vai fazer no futuro. O que posso dizer sobre o futuro? É que ele ainda não está realizado e até lá muita coisa pode acontecer".
A caminhada de Gouveia e Melo na guerra contra a Covid-19
Em 3 de fevereiro, o submarinista de 61 anos emergiu como líder da Task Force - após a demissão de Francisco Ramos devido a irregularidades no processo de vacinação -, embora estivesse desde o início da pandemia no planeamento das ações das Forças Armadas no terreno. Foi então que vestiu o camuflado para "uma guerra" contra o vírus SARS-CoV-2, fixando as prioridades de salvar vidas, conferir resiliência ao Estado e libertar a economia.
Numa exigência transversal, apelou à compra do máximo de vacinas, anunciou que o país poderia administrar 100 mil a 150 mil vacinas por dia - meta superada em 9 de julho, com mais de 160 mil -, pediu o alargamento entre as duas tomas para vacinar mais pessoas, descartou a proliferação de novos grupos prioritários, exigiu mais profissionais e apontou a imunidade de grupo para agosto.
A navegação do vice-almirante enfrentou também correntes adversas nas dúvidas em torno da segurança das vacinas, sobretudo a da AstraZeneca, e o coordenador criticou a "comunicação errática" sobre uma vacina "segura", alegando possíveis "guerras comerciais".
Um dos passos decisivos foi o arranque dos centros de vacinação, entre abril e maio, acompanhado do portal de autoagendamento, que massificou a adesão dos portugueses. Com esse fluxo registaram-se também constrangimentos, como em junho, no centro de Monte Abraão (Sintra), em que foi ao local para impor rapidez e acabar com indecisões dos utentes.
"Vamos todos sê-lo e à força. Uns vão ter a vacina artificial, dada aqui e controlada, outros vão ter a vacina natural, lá fora, com 14 dias de quarentena garantidos, risco de hospitalização e até de morte", avisou o vice-almirante, sentenciando: "Se ainda assim 'estiverem a tremer', é dizer-lhes o que se diz aos militares: 'Colinho' dá a mãe em casa. Isto é um centro de vacinação, não de psicoterapia".
O momento mais conturbado deste percurso ocorreu em 14 de agosto, quando Gouveia e Melo foi a Odivelas acompanhar a inoculação de jovens de 16 e 17 anos e acabou insultado à entrada por cerca de 30 negacionistas, que o acusaram de "assassino".
"O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos. O vírus associado à ignorância e ao medo ainda mata mais", atirou, antes de voltar a enfrentar os manifestantes na porta principal, mas já com escolta da PSP, que passou a acompanhá-lo.
Logo a seguir, Portugal atingiu os 70% de população imunizada com duas doses antes do previsto e Gouveia e Melo foi condecorado pelo Presidente da República, em 19 de agosto, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis.
Em 28 de setembro, e já ultrapassado a meta dos 85% de primeiras doses, Gouveia e Melo anunciou o fim da Task Force, destacando um processo "que vai ficar na história" e desejando "voltar ao anonimato".
Da vontade à realidade tem sido uma travessia difícil, com múltiplos convites para eventos, recebido como uma celebridade, mas afastando o regresso à coordenação e qualquer 'sebastianismo' à sua volta.
"Dizer 'tragam o Sebastião' é provar que não aprendemos nada. Estarei sempre disponível enquanto militar, mas gostaria de ver a nossa sociedade a andar para a frente de outra forma: sem nenhum Sebastião, porque Sebastião é cada um de nós", concluiu.
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