Franklim Marques, professor com três mandatos à frente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Farmacêuticos - e candidato ao cargo de bastonário nas próximas eleições -, considera, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que os farmacêuticos têm sido subaproveitados durante o combate à pandemia.
Para o professor, os farmacêuticos têm muito mais competências do que aquelas que estão a ser usadas e não são apenas “dispensadores de comprimidos”.
“Devíamos ter sido melhor aproveitados. Temos capacidades do ponto de vista do conhecimento para fazer muito mais. Nós somos realmente quem mais sabe sobre o medicamento. Por razões que não conheço, fomos subaproveitados e subvalorizados”, diz.
A título de exemplo, refere a renovação das prescrições de medicamentos, que podiam ser feitas pelos farmacêuticos, aliviando a pressão sobre o SNS. “Portugal é um país de população muito idosa, com muitas doenças crónicas, e as pessoas sentem-se frágeis quando não têm medicamentos. Outras precisam deles para viver com qualidade de vida. Muita gente sentiu falta desses medicamentos e os farmacêuticos podiam ter atuado aí, prescrevendo-os”, revela, em entrevista. Franklim Marques recorda que esta é uma prática noutros países da Europa, e insiste que a mudança em Portugal vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
Ainda assim, diz que o papel do farmacêutico foi “brilhante”, uma vez que tem uma relação de “maior proximidade” com os doentes, e que, na fase pior da pandemia, muitas pessoas, sem conseguirem entrar em contacto nem com SNS24 nem com centros de saúde, dirigiram-se às farmácias.
“Recordo-me do que a Secção Regional do Norte da Ordem dos Farmacêuticos passou com o número enorme de chamadas telefónicas, com pessoas preocupadas com a avalanche de pessoas que estavam sem cuidados. Verificaram-se coisas como pessoas que não tinham ninguém, idosos que ficavam o dia inteiro à portas das farmácias, farmacêuticos sem saber o que fazer porque era tanta gente às portas. E isto nas cidades, porque no interior foi dramático”, disse, sem deixar de recordar os recordes de testagem antes da passagem de ano - quase 600 mil testes.
O candidato ao cargo de bastonário diz, ainda, que o farmacêutico deve ter um papel mais interventivo socialmente e maior ligação com os centros de saúde, quer mesmo com os hospitais. “Só assim se evita, no caso dos laboratórios, repetir análises, análises desnecessárias com gastos desnecessários para o SNS, confusões com prescrições em que o doente escusa de ir ‘entupir’ mais uma vaga sem necessidade”, acrescenta.
Sobre o processo de vacinação contra a Covid-19, o professor considera que este deveria estar a ser feito também nas farmácias. Principalmente no interior, considera, seria uma mais-valia para quem tem de se deslocar quilómetros até um centro de vacinação. “Se a princípio se entendia que deveria haver algum cuidado, por ser uma vacina nova e não estarmos cientes da reação das reações dos utentes, hoje já não se entende. Seria uma benção para o estado, porque as farmácias estão em todos os cantos do país”, afirma, dizendo ainda que poderia haver um aumento nos números de vacinados pela proximidade que as farmácias têm à população.
“Mais uma vez, não seria novidade, porque muitos países já o fazem, aproveitando a capacidade já instalada”, insiste Franklim Marques, que diz não entender por que é que os farmacêuticos não estão a vacinar. “Podemos dar vacinas da gripe e esta não podemos? É um desperdício”, afirma.
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