Pelas 10:00, os manifestantes, que empunhavam bandeiras da Ucrânia e faixas anti-Putin, entoavam cânticos russos de resistência, que remontam à II Guerra Mundial.
O protesto, que conta com a organização da associação que representa os ucranianos em Portugal, decorre no mesmo dia em que foram assassinadas dezenas de pessoas, em Kiev, que se manifestavam contra o regime do presidente pró-russo Yanukovich, em 2014.
"A primeira mensagem que queremos deixar é que estamos fartos destas ameaças de Putin e pedimos ao mundo democrático que ajude os ucranianos. Hoje as comunidades ucranianas de toda a Europa estão a fazer estas manifestações. Vamos ajudar, de todos os modos, a defender a nossa pátria. Esta é uma situação muito perigosa, que tem que ser resolvida, não pela guerra, mas pela via diplomática", afirmou o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, em declarações aos jornalistas.
Apesar de desejar que as tensões entre os dois países terminem nos próximos dias, este responsável vincou não acreditar que o Presidente russo "deixe a Ucrânia em paz", uma vez que tal não aconteceu desde que chegou ao poder.
"Se não vai invadir, vai fazer outro tipo de atos terroristas para controlar e destruir a Ucrânia", apontou.
O presidente da Associação de Ucranianos em Portugal agradeceu ainda a todos os países que, juntamente com a Ucrânia, estão a pressionar Vladimir Putin a acabar com este conflito.
Pavlo Sadokha garantiu também que, neste momento, os ucranianos já não têm medo, "mas estão irritados com o permanente [clima] de terror imposto por Putin".
Presente na manifestação, Natália Barchuk disse à Lusa que Putin "não se conforma com a ideia da Ucrânia querer ser um país pró-europeu", acrescentando que a relação entre os dois países só esteve mais calma durante o período em que a Ucrânia foi governada por líderes que apoiavam a Rússia.
"Em 2014, conseguimos correr com o [Viktor] Yanukóvytch [...], depois de não ter assinado uma parceria com a União Europeia. A União Soviética acabou. O Putin e a Rússia não entenderam isto. O povo está a demonstrar que está, outra vez, disposto a lutar e a morrer, desde que isto acabe de vez", afirmou.
Por outro lado, a manifestante ucraniana garantiu não acreditar nas promessas de Putin e recordou o ataque contra um jardim de infância, que decorreu, esta semana, em Lugansk, no Leste do país.
Já Nina Nhanbchuk, ucraniana que trabalhou durante 20 anos no Fundão, distrito de Castelo Branco, agradeceu a Portugal pelo apoio dado à comunidade e expressou a sua vontade de que o conflito termine.
"Somos muito patrióticos e queremos guardar a nossa terra. Não quero guerra. Rezo todos os dias para que a guerra acabe no mundo. Queremos paz", sublinhou.
Esta manifestante, que carregava a bandeira ucraniana às costas, preenchida com mensagens de apoio de amigos portugueses, lamentou o desejo de poder do Presidente da Rússia, mas notou não ter medo de que se inicie uma III guerra mundial.
"Só não sabemos o que vai na cabeça do Putin. Ele não quer saber de ninguém [...], quer reinar em todo o mundo. Ele só quer mostrar que é maior do que Deus", concluiu.
A manifestação prosseguiu com palavras de ordem em ucraniano, inglês e também português, através das quais os presentes classificavam Putin como terrorista e acusavam-no de ter provocado a morte de milhares de civis e militares. "Assassino. Queremos paz para a Ucrânia", "Putin terrorista" e "Stop Putin" eram alguns dos 'slogans' que se podiam ler na manifestação.
Os protestos em "Defesa da Ucrânia, da Europa e dos Valores Democráticos" em Portugal decorrem também no Porto e em Loulé.
O Ocidente e a Rússia vivem atualmente um momento de forte tensão, com o regime de Moscovo a ser acusado de concentrar pelo menos 150.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia, numa aparente preparação para uma potencial invasão do país vizinho.
Moscovo desmente qualquer intenção bélica e afirma ter retirado parte do contingente da zona.
Entretanto, nos últimos dias, o exército da Ucrânia e os separatistas pró-russos têm vindo a acusar-se mutuamente de novos bombardeamentos no leste do país, onde a guerra entre estas duas fações se prolonga desde 2014.
Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) anunciaram no sábado ter registado em 24 horas mais de 1.500 violações do cessar-fogo na Ucrânia Oriental, número que constitui um recorde este ano.
[Notícia atualizada às 13h01]
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