No rescaldo das agressões a enfermeiros e ao segurança do Hospital de Vila Nova de Famalicão, Marta Temido, ministra da Saúde, repudiou a violência e mostrou a sua solidariedade para com as vítimas, referindo ser necessário uma maior prevenção destes casos e de acompanhamento, daquele que é “um problema com variadas dimensões”.
"Só posso repudiar tudo aquilo que são atos de agressão contra quem está a fazer o seu trabalho, particularmente pessoas que estão a trabalhar no sentido do socorro a outros e solidarizar-me com as vítimas deste ato inqualificável", afirmou Marta Temido aos jornalistas, à margem do curso temático 'SARS-CoV-2 e Covid-19 - Onde estamos e para onde vamos?' que está a decorrer em Lisboa e que antecede as Jornadas de Atualização em Doenças Infecciosas do Hospital de Curry Cabral.
A ministra disse ver com "grande preocupação e uma sensação de grande mágoa" o que ocorreu no Hospital de Vila Nova de Famalicão, em que um grupo de pessoas, alegadamente da mesma família, agrediu dois profissionais de saúde e um segurança.
Adiantou que já falou com o presidente do conselho de administração do hospital e que o secretário de Estado Adjunto da Saúde, António Lacerda Sales, "que acompanha mais a área do programa de luta contra a violência em profissionais de saúde", falou com os profissionais.
"O relato é de facto de uma situação de extrema violência que culminou em agressões físicas a um elemento da segurança e a elementos de enfermagem que só foi possível relatar às autoridades em momento posterior porque, entretanto, os agressores deixaram o local", contou.
A ministra da Saúde relatou que foi uma agressão "inesperada" perpetrada por "um grupo de vários indivíduos que irrompeu pelo serviço de urgência e iniciou uma agressão completamente despropositada".
Segundo Marta Temido, o hospital está a acompanhar os profissionais de saúde a nível de apoio jurídico e psicológico e a administração "está já a intervir no sentido de implementar algumas medidas que reforcem a vigilância e a segurança deste local".
"Naturalmente que o Ministério da Saúde, através do hospital, está a fazer o mesmo tipo de acompanhamento e de apoio", sublinhou.
Para Marta Temido, a agressão a profissionais de saúde pode ser evitada com o “reforço dos dispositivos no terreno de prevenção”, passando ainda pelo “acompanhamento das pessoas, quando o caso se transforma num caso de agressão”.
A responsável realçou ainda que, apesar do aumento do número de agressões contra profissionais de saúde no ano anterior, “houve mais relatos e maior adesão das instituições e dos profissionais para notificarem este tipo de situação”.
A seu ver, a solução envolve “o programa de prevenção e de combate à violência contra profissionais de saúde, que tem uma série de eixos específicos e uma estratégia de combate aprovada em Conselho de Ministros”, ainda que se trate de “um problema com variadas dimensões”.
“Há uma dimensão evidentemente de prevenção, que é essencial, e há uma dimensão também de apoio às vitimas destas situações, e de melhoria das condições infraestruturais e de policiamento, quando são identificadas falhas”, explicou.
No caso concreto, a ministra apontou que o conselho de administração do Hospital de Vila Nova de Famalicão “já a intervir no sentido de implementar algumas medidas que reforcem a vigilância e a segurança deste local”.
Tanto a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Pedroso Cavaco, como o Sindicato dos Enfermeiros (SE) apelaram a que a violência contra os profissionais de saúde seja um crime público, tornando desnecessária a queixa por parte dos ofendidos, depois do anúncio das agressões.
Recorde-se que, esta madrugada, um enfermeiro e um funcionário de uma empresa de segurança privada ficaram feridos, quando um grupo de 15 a 20 pessoas entrou no serviço de urgência do Hospital de Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga. Não foi possível identificar ou deter os intervenientes, de acordo com uma nota da Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP).
O Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA) acrescentou, em comunicado, que o episódio foi registado pelas 03h30, quando o grupo entrou "de forma agressiva" no Serviço de Urgência, acompanhando uma mulher.
"Quando solicitados a acalmarem-se pelo elemento de segurança, agrediram-no com violência, forçaram a entrada no serviço e, quando de novo lhes foi pedida calma, agrediram os profissionais de saúde que se aproximaram, tendo provocado ferimentos com alguma gravidade em dois profissionais", refere, condenando "veementemente" o comportamento dos agressores.
Manifesta-se também solidário com os seus profissionais, "a quem está a ser prestado todo o apoio, e está a promover todas as diligências necessárias para agir judicialmente" contra os agressores.
Dados divulgados em janeiro pelo coordenador do Gabinete de Segurança do Ministério da Saúde indicavam que nos 10 primeiros meses de 2020 foram reportadas 752 situações de violência contra profissionais de saúde, mais 4% face ao período homólogo de 2020 e menos 24% relativamente a 2019, ano pré-pandemia.
A "grande maioria destas situações reportadas são de violência psicológica, que representaram, em 2021, 63% das queixas, em 2020, 66%, e em 2019 57%", adiantou o subintendente da Polícia de Segurança Pública Sérgio Barata.
Relativamente à violência física, afirmou que tem tido uma evolução decrescente. "Se em 2019 representava 23% das situações reportadas, em 2021 representou 17%".
[Notícia atualizada às 18h08]
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