"Infelizmente vai chegar muito mais gente. Nós estamos cá para ajudar, acolher, proteger e dar emprego a quem quiser cá ficar", disse à Lusa Manuel Lemos, presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, acrescentando que alguns refugiados já encontraram trabalho nas misericórdias.
Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) concedeu mais de 25 mil pedidos de proteção temporária. Destes refugiados, um em cada três é menor.
As misericórdias fazem parte da rede de apoio às vítimas desta guerra. "Recebemos pedidos de ajuda para dar alojamento e alimentação e, claro, aquelas coisas essenciais", explicou Manuel Lemos, recordando que muitos fugiram do país com pouco mais do que a roupa que traziam vestida.
Neste momento, estão a dar guarida a cerca de 150 refugiados, mas têm "capacidade para muito mais", entre misericórdias e Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), acrescentou.
A maioria dos refugiados queria ficar em Lisboa e no Algarve, mas "estão um pouco por todo o país".
Segundo Manuel Lemos, algumas das primeiras pessoas acolhidas nas misericórdias já não lá estão: "Temos pessoas que já cá estiveram e já foram embora para outros países. É tudo muito volátil".
A União das Misericórdias está a trabalhar em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), autarquias e grupos informais, como a Missão Ucrânia, criada por um grupo de amigos.
Nas instituições sabe-se que os pedidos de ajuda deverão aumentar nos próximos tempos e se havia muita gente que saía do seu país na esperança de poder regressar muito em breve, agora a ideia desse retorno começa a ser adiada. A guerra, que começou há 37 dias, continua e a destruição de algumas cidades aumenta, tornando-as inabitáveis.
"Muitas pessoas esperavam regressar no curto prazo de tempo, mas também há quem diga que não quer voltar, porque não quer que os filhos voltem a passar pela experiência da guerra", disse Manuel Lemos.
A plataforma 'SEFforUkraine.sef.pt' "possibilita a todos os cidadãos ucranianos e seus familiares (agregado familiar), bem como a qualquer cidadão estrangeiro a residir na Ucrânia, fazer 'online' um pedido de proteção temporária de um ano, prorrogável por dois períodos de seis meses".
No decorrer do processo para proteção temporária em Portugal, os cidadãos que a requeiram têm acesso aos números fiscal, de Segurança Social e do Serviço Nacional de Saúde, podendo beneficiar destes serviços e ingressar no mercado de trabalho.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, um ataque que foi condenado pela generalidade da comunidade internacional.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
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