O presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, esteve, esta sexta-feira à noite, na SIC Notícias, para comentar a notícia revelada pelo Expresso de que refugiados ucranianos foram recebidos por russos pró-Kremlin no gabinete de apoio da Câmara Municipal de Setúbal.
"Olhando para os dias e dias em que as cidades ucranianas são bombardeadas, onde morrem ucranianos, quando nós, comunidade ucraniana, assistimos, minuto a minuto, o que acontece e depois olhar para esta situação... Em Portugal, um dirigente de uma associação que é bem conhecida por toda a comunidade ucraniana... Ele não é só pró-russo, ele é mesmo apoiante de [Vladimir] Putin", começou por frisar o responsável.
"Ele [Igor Khashin] está a apoiar a política de Putin de matar ucranianos", vincou Pavlo Sadokha, acrescentando que ter esta pessoa a receber os refugiados ucranianos é "inaceitável" e "muito lamentável".
Para a Associação dos Ucranianos em Portugal, "o que acontece na Câmara de Setúbal é responsabilidade da Câmara de Setúbal", mas, o que interessa para a comunidade no nosso país é que "ucranianos que venham da Ucrânia sejam informados que aqui existe a Associação de Ucranianos e para eles terem cuidado com quem falam e o que dizem".
Pavlo Sadokha indicou ainda que tanto ele como a Associação a que preside foram "alertados pela comunidade ucraniana naquela zona de Setúbal que Igor Khashin, bem conhecido por ser pró-Putin, estava a apoiar e a recolher dados dos refugiados".
O que está em causa?
De acordo com o semanário, pelo menos 160 refugiados ucranianos já terão sido recebidos por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense.
Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e a mulher terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.
Segundo o Expresso, Igor Khashin e a mulher terão também questionado os refugiados sobre os familiares que ficaram na Ucrânia, mas a Câmara Municipal de Setúbal garante que "nunca foi feita tal pergunta".
O jornal refere ainda que Igor Khashin é um dirigente associativo com dupla nacionalidade, que se apresenta como "gestor de projetos", e que as associações a que terá estado ligado estavam nos 'sites' da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin para divulgar a cultura e o mundo russos, mas que, segundo fontes citadas pelo jornal, "podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos" da Rússia.
Já este sábado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras decidiu suspender os pedidos de colaboração a pessoas ligadas à Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), após as suspeitas reveladas.
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