Associação diz não perceber como PCP continua a existir em Portugal
O presidente da associação Refugiados Ucranianos (UAPT) afirmou hoje à Lusa não perceber como é que Portugal continua a ter um partido como o PCP, nem por que as organizações não filtram as pessoas que lá trabalham.
© Lusa
País Ucrânia/Rússia
O dirigente associativo Maksym Tarkivskyy comentava a notícia divulgada pelo Expresso de que refugiados ucranianos foram recebidos no município de Setúbal por russos pró-Putin, durante a iniciativa "obrigado a Portugal (Glória a Portugal)", que decorreu na Praça do Comércio, em Lisboa, entre as 17:00 e as 19:00 e reuniu mais de duas centenas de pessoas perante um sol abrasador.
Instado a comentar o tema, o presidente da organização não governamental começou por dizer que tinham tentado, "talvez por engano, meter" esta associação neste assunto, o que asseverou ser "completamente errado".
Tarkivskyy, que vive em Portugal há 20 anos, país onde acabou a escola, fez faculdade e trabalha, disse não perceber "como é que Portugal, um país democrático, continua a ter um partido como o PCP".
E acusou: "É um partido que está basicamente neste momento a apoiar a guerra, não entendo mesmo".
"Custa-me perceber como é que não filtram as câmaras, as organizações não filtram as pessoas dentro de próprias" associações, "quem são, o que é que fazem e quais são as ideias deles", apontou o presidente da Refugiados Ucranianos UAPT.
"Ou seja, como vi uma senhora a dizer: os ucranianos vieram de uma guerra, de uma situação complicada, e agora, de repente, têm que ainda sentir" esta situação em Portugal, prosseguiu.
Sabendo que Portugal "é dos mais acolhedores países, fica um bocado para mal para nós aqui, os portugueses, a sentir que existem casos graves desse género", considerou.
E rematou o assunto para esclarecer que na sua organização não existem pró-russos: "Nós não temos nenhum russo, nenhuma pessoa que tenha posição ou alguma política pró-russa de forma nenhuma, e todos os que quiserem nos pôr imagem negra vão ter problemas graves, vamos se for preciso ao tribunal".
Na iniciativa que juntou mais de 200 pessoas, os hinos de Portugal e da Ucrânia foram tocados e desdobraram-se as duas bandeiras, que formaram um coração unido, servindo de sombra para as crianças que brincavam no local.
Nesta concentração, vários ucranianos fizeram-se acompanhar dos seus filhos e até animais de estimação, numa altura em que o sol ainda batia forte.
"Esta iniciativa hoje é exatamente para agradecer aos portugueses pela ajuda e pela vontade e pelo apoio todo que estão a dar hoje em dia", porque Portugal "neste momento é um dos melhores a ajudar o nosso país", sublinhou Maksym Tarkivskyy, depois de ter discurso em português.
"Quero agradecer a todos os portugueses a vossa vontade de ajudar, de sentir connosco as dificuldades que o meu país natal está a sofrer", rematou.
Questionado sobre se há alguma coisa mais que Portugal pudesse fazer para ajudar os refugiados ucranianos, o presidente da associação destacou a questão das rendas.
"O que neste momento é mais preciso aqui em Portugal é ter ainda vontade e pelo menos baixar os preços das rendas e facilitarem ", disse.
Isto porque "há muita gente que se encontra com a situação de não ter capacidade de pagar seis a 12 meses de uma vez e, nestes casos, os portugueses não aceitam que paguem como costume, duas, três rendas inicialmente. Isso torna-se difícil porque nem toda a gente tem capacidade de ter esse valor de um momento para o outro", alertou Maksym.
Entre os várias pessoas presentes, uma mãe e uma filha - Inessa Balazh e Emiliya Balazh - destacavam-se na multidão, com esta última a empunhar um cartaz onde se lia "Save Mariupol" ("Salvem Mariupol", em inglês).
Inessa vive em Portugal há cerca de 19 anos, tem família cá e afirma-se "muito integrada" em Portugal.
Sobre a iniciativa de hoje, classifica de "muito importante agradecer porque muitas pessoas, de facto, ajudaram e apoiaram" os cidadãos ucranianos.
"Deram muito apoio e esta organização fez muita coisa para os nossos refugiados, por isso é importante divulgar e agradecer todo o apoio", acrescentou Inessa Balazh.
"Nós sentimos uma profunda dor" sobre o que está a acontecer na Ucrânia, "sentimos um bocado frustração porque não podemos ajudar mais", referiu.
Como a esperança é a última a morrer, Inessa acredita que no fim a Ucrânia sairá vencedora: "Eu acredito que nós vamos vencer, com a ajuda de todo o mundo".
Já Emiliya destacou a situação se vive em Mariupol, visível no cartaz que empunhava, porque "efetivamente a situação, a crise humanitária que está a haver lá, é horrível o que está a acontecer às pessoas e é importante se saiba" e que sejam divulgadas informações sobre isso, para "as ajudar de alguma maneira".
Emiliya nasceu na Ucrânia e vive em Portugal há 13 anos, tendo passado uma boa parte da sua vida no país de origem, referiu.
"Como a minha mãe estava a dizer, é uma dor profunda [ver o que se passa na Ucrânia], custa-me imenso, todos os dias penso nisso", confessou, porque é o seu país, o seu povo.
"Toda gente tem ajudado imenso", até pessoas que não tinham muito, acrescentou a jovem, que mantém a esperança que a Ucrânia saia vencedora deste conflito.
"Todos juntos, acredito, que vamos conseguir", rematou.
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