Depois de mais de dois meses de guerra na Ucrânia, foram surgindo ataques, incêndios e explosões suspeitas em território russo. Enquanto alguns ataques surgiram em regiões na fronteira ucraniana, como Belgorod, Bryansk e Kursk, houve também registo de explosões em fábricas e infraestruturas militares bem no interior da Rússia.
Para o comentador e especialista em História da Rússia, José Milhazes, os recentes incidentes em território russo estão a criar um "clima de instabilidade", numa altura em que o público pode percecionar que a guerra não está a trazer os frutos veiculados pela propaganda.
"Neste momento, isto cria um grande clima de instabilidade na Rússia porque se os ucranianos se lembram, no famoso dia 9 de maio [dia apontado pelas agências internacionais como uma data que será marcada militarmente pela Rússia], de fazer 'alguma' na Rússia, então aí… Em Moscovo, vão patrulhar as ruas no dia 9 de maio cerca de 50 mil polícias", explicou o jornalista.
Ainda sobre estes eventos, o especialista mencionou um incidente recente em Tver, a apenas 200 quilómetros de Moscovo, onde um incêndio suspeito destruiu um instituto de investigação das Forças Aeroespaciais russas, matando pelo menos 17 pessoas.
O Kremlin tem apontado o dedo à Ucrânia por estes incêndios e explosões, mas o governo de Kyiv recusa qualquer responsabilidade.
Milhazes também apontou que a onda de desinformação e forte opressão policial e mediática tem levado a uma proliferação de teorias sobre uma queda hipotética de Putin que, avisa, poderá não ser tão boa quanto se pensa.
"Forma-se uma grande paranoia terrível, que leva agora ao aparecimento das mais diversas teses. Que Putin está doente, que vai haver um golpe de estado… Tenta ver-se quem está a organizar um golpe de estado e começa-se a entender que, se for aquele que indicam, valha-nos nossa senhora porque é pior que o Putin", exasperou.
Apesar da guerra estar a criar um enorme esforço económico na Rússia, e apesar de muitos oligarcas russos terem visto as suas contas congeladas no Ocidente e as suas atividades sancionadas um pouco por todo o mundo, José Milhazes adverte que o prolongar do conflito é desejado por alguns dentro da elite russa.
"Esta guerra está a ter consequências tenebrosas, os avanços no terreno estão a ser muito poucos ou praticamente nenhuns, e, é claro, as elites russas estão a tentar, umas a encontrar um caminho que possa levar a Rússia a uma paz mais ou menos honrosa; e outras querem a continuação deste conflito até à última consequência", afirmou.
Segundo os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a guerra na Ucrânia já fez mais de 3.100 mortos entre a população civil. No entanto, a ONU alerta que o número real de mortos poderá ser muito superior depois de contabilizadas as baixas em cidades sitiadas e controladas pelos russos.
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