"Teve os melhores cuidados médicos, sobretudo fora de Angola, porque infelizmente a Angola que ele e o João Lourenço deixam, eles são inseparáveis apesar do drama 'shakespeariano' entre eles, é uma Angola onde ninguém pode ter um tratamento médico decente, nem sequer a nomenclatura cleptocrática que governa Angola há 48 anos", disse à agência Lusa João Soares.
Segundo o socialista, José Eduardo dos Santos foi "o chefe desta nomenclatura durante muitos anos" que passou o poder a João Lourenço, atual Presidente, uma vez que "nunca houve eleições livres em Angola".
João Soares criticou também a educação em Angola ao considerar que "é uma desgraça" e lamentar que "a maior parte da nomenclatura" venha estudar para o estrangeiro, nomeadamente para Portugal.
O antigo ministro da Cultura disse igualmente que "não há o mínimo de segurança social em Angola", frisando que "basta lá ir por uma semana para perceber o desastre de país que é", apesar de ter "todas as condições para ser um dos mais produtivos".
"Eles [José Eduardo dos Santos e João Lourenço] são o poder de uma cleptocracia há 50 anos, eles vão ultrapassar o tempo que durou a ditadura do Estado novo em Portugal e foi uma conjugação de métodos entre aquilo que foram os métodos de Salazar e do Marcelo Caetano e os métodos dos países comunistas", precisou.
João Soares recordou ainda que José Eduardo dos Santos e João Lourenço foram educados "pela escola salazarista no tempo em que eram mais jovens, e pela escola comunista, quando foram para o exílio".
José Eduardo dos Santos morreu hoje aos 79 anos em Barcelona, após doença prolongada, anunciou a Presidência da República de Angola.
O antigo Presidente da Angola estava há duas semanas internado nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona.
José Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como Presidente de Angola em 1979 e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo.
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