O Conselho Presbiteral do Patriarcado de Lisboa, entidade representativa dos padres da diocese, partilhou esta terça-feira um comunicado onde demonstra o seu apoio ao cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e lamenta a inexistência de um "debate sério sobre o clericalismo" na sequência destes casos.
"Queremos contar com o nosso Patriarca, Cardeal Manuel Clemente, como contámos até aqui", pode ler-se na referida nota, que fala de "tempos exigentes em termos eclesiais".
A posição do Conselho foi partilhada na sequência da informação que tem vindo a ser divulgada na comunicação social acerca da forma como D. Manuel Clemente agiu face às denúncias de abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes no passado.
E depois de, também, o cardeal-patriarca ter colocado o lugar à disposição, após ter reunido na sexta-feira com o Papa Francisco, no Vaticano, para esclarecer as recentes notícias sobre a alegada inação da Igreja Católica portuguesa em casos desta natureza.
Numa altura em que, como esclarecem os membros do Secretariado Permanente do Conselho Presbiteral, "surgem notícias de abusos sexuais na Igreja em Portugal" semanalmente, a "dinâmica mediática transformou tudo em mais um 'caso'”.
Uma dinâmica que, na perspetiva do organismo representativo dos padres da diocese, não tornou propícia "uma maior tomada de consciência acerca do problema dos abusos sexuais na Igreja" e um "debate sério sobre o clericalismo".
O Conselho Presbiteral do Patriarcado de Lisboa destaca ainda que está agora a ser vivido um "caminho de conversão para que crimes destes nunca mais sejam encobertos". E também para que, "de futuro, preventivamente, tudo se faça para que eles não se repitam".
De recordar que, segundo uma reportagem do Observador da semana passada, D. Manuel Clemente terá tido conhecimento de uma denúncia de abusos sexuais de menores contra um padre do Patriarcado, mas mesmo depois de se ter encontrado com a vítima, escolheu não comunicar o abuso às autoridades e o padre continuou no ativo.
Numa carta aberta divulgada na semana passada, o patriarca de Lisboa defendeu-se das notícias que apontavam para a sua inação e falta de colaboração com as autoridades judiciais e civis, confirmando que se encontrou com a vítima, dizendo não entender o porquê de estar "perante uma renovada denúncia da feita em 1999".
Manuel Clemente vincou ainda que o caso "e outros do conhecimento público e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje" todos querem "ver implementados".
Na edição de sexta-feira do Expresso, o semanário noticiou que o bispo da Guarda, Manuel Felício, e o bispo emérito de Setúbal, Gilberto Reis, também terão escondido queixas de abusos sexuais por padres das autoridades policiais.
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