A dias da reabertura do Bolhão, vendedores anseiam pelo regresso
A poucos dias da reabertura do Mercado do Bolhão, no Porto, os comerciantes estão a ultimar pormenores, preparando-se para regressar a "casa" e às bancas nas quais anseiam vender há mais de quatro anos e meio.
© Global Imagens
País Porto
"O Bolhão é a nossa casa". É assim que Luísa Silva, de 63 anos e proprietária da Salsicharia Luísa, descreve à Lusa o mercado centenário que reabre portas a 15 de setembro.
Luísa Silva é proprietária do negócio há 39 anos, mas os corredores e bancas do Bolhão conhecem-na há 53 anos.
"Tenho mais anos de Bolhão do que de casa", observou, dizendo que este é o "grande regresso".
A comerciante e o marido já visitaram a nova banca, mas só a partir de 10 de setembro -- dia em que o mercado temporário do Bolhão fecha portas -- é que podem começar a fazer as mudanças e a transportar bacias, móveis, frigoríficos e tantos outros equipamentos.
As chaves já lhes foram entregues, mas o novo espaço não correspondeu às expectativas do casal: "é muito estreitinho, temos 92 centímetros de largura para trabalharmos os dois e depois temos quatro degraus para chegarmos ao armazém de desmanche [de carne]".
"É muito desconfortável porque já não vamos para novos", desabafou Luísa, dizendo, no entanto, que o que mais anseia é voltar ao "ar puro" do mercado.
Também Paula Viana, da Frutaria do Bolhão do Rui Silva, está "ansiosa" para "o grande dia" e para poder voltar ao local onde trabalhou durante 38 anos.
Quando transferiram os comerciantes para o mercado temporário do Bolhão, Paula receou pelo futuro, pois eram poucos os clientes, mas conseguiu conquistá-los com o passar do tempo.
Por estes dias, enquanto o marido de Paula Viana anda ocupado a tratar dos contratos para a instalação de água e luz na banca, que é "grande", a comerciante vai informando a clientela do local onde será a sua nova banca no Bolhão.
"No Bolhão tudo vai ser muito melhor", assegurou à Lusa.
O renovado mercado acolherá, a partir de setembro, 87 comerciantes históricos, que, volvidos mais de quatro anos, deixarão em breve o mercado temporário, que será desmontado e devolvido aos proprietários.
Com 81 bancas, 38 lojas e 10 restaurantes, o Bolhão acomodará os frescos no piso térreo e os restaurantes no piso superior.
Para Ermelinda Lopes, proprietária da peixaria com o mesmo nome, os dois primeiros anos no mercado temporário foram "muito bons", mas, entretanto, o ambiente entre colegas "piorou".
"Lá vai ser melhor, cada uma vai ter o seu espaço", lembrou, dizendo pedir "sorte e saúde" para esta "nova etapa".
"Estou confiante", disse a vendedora, de 66 anos e que entrou pela primeira vez naquele espaço centenário "na barriga da mãe".
No mercado renovado, Ermelinda já não vai entrar de socos e avental, como fazia no tempo em que ia à lota e conseguia vender todo o pescado até às 15:00, mas vai confiante de que "a recuperação do mercado parte dos comerciantes".
"Está no nosso sangue", acrescentou.
Se Ermelinda não duvida que o sucesso do renovado mercado "está no sangue" dos comerciantes, Pedro Fernandes, gerente da padaria Alzira do Bolhão, espera que o mesmo seja "o cartão de visitas" da cidade e, como noutros tempos, faça aumentar o fluxo de clientes.
"Neste momento temos uma percentagem ínfima de visitas", disse, esperando que o novo espaço permita aumentar entre 60 e 70% o número de visitantes e, consequentemente, potenciais clientes.
Entre flores, suculentas, catos e aromáticas, Domingos Teixeira, que ajuda o proprietário do Horto das Enxurreiras para "desanuviar" e para "passar algum tempo", acredita que, apesar do futuro ser uma "incógnita", o Bolhão será sempre "o símbolo" da cidade e do país.
O mercado centenário, aberto no início da I Guerra Mundial, foi alvo de uma obra de restauro consignada a 15 de maio de 2018, prevendo-se, à data, um prazo de dois anos para a conclusão dos trabalhos.
A empreitada de restauro e modernização do Mercado do Bolhão foi adjudicada ao agrupamento Alberto Couto Alves S.A e Lúcio da Silva Azevedo & Filhos S.A por 22,379 milhões de euros, com um prazo global de execução de 720 dias.
A gestão da empreitada foi assegurada pela empresa municipal GO Porto, que ficará também responsável pela gestão do equipamento quando este abrir portas.
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