Em declarações aos jornalistas em Brasília, onde se deslocou a convite do presidente do Senado brasileiro para as comemorações do bicentenário do Brasil, Augusto Santos Silva defendeu que as relações luso-brasileiras são "absolutamente estruturais" a todos os níveis e de uma "absoluta singularidade".
"Basta pensar que hoje foi entoado não apenas o hino do Brasil, mas também o hino de Portugal, e o Presidente da República Portuguesa encerrou a sessão solene com um discurso notabilíssimo", assinalou, referindo-se à sessão comemorativa realizada no Congresso brasileiro.
Segundo o presidente da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa "fez muito bem em recorrer a outro notável discurso, que foi o de António José de Almeida em 1922, no primeiro centenário" da independência do Brasil.
Santos Silva disse que nessa ocasião o então Presidente da República Portuguesa declarou que a sua presença era "não apenas para felicitar o Brasil", mas para "agradecer ao Brasil a sua independência", e agora cem anos mais tarde "o Presidente Marcelo atualizou esse agradecimento".
"O agradecimento ao Brasil é o agradecimento pelas centenas de milhares de portugueses acolhidos no Brasil e pelas centenas de milhares de brasileiros que vivem hoje em Portugal, pelas relações políticas e diplomáticas entre os dois países, pelos laços culturais, pela preservação e a cultivação da língua comum nas suas diferentes variedades, pela diferença das relações Estado a Estado e povo a povo", prosseguiu.
Para o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, "essa atualização feita pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não poderia ser mais oportuna".
Questionado sobre até que ponto as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil foram contaminadas pela campanha eleitoral em curso neste país, Santos Silva respondeu: "Eu não vi nenhum sinal de contaminação na única cerimónia em que participei".
Augusto Santos Silva esteve apenas na sessão solene de hoje no Congresso e não participou no desfile cívico-militar do 07 de Setembro, ao qual Marcelo Rebelo de Sousa assistiu na tribuna, ao lado do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Sobre a ausência de Bolsonaro na sessão solene de hoje, o presidente da Assembleia da República não quis fazer comentários.
No seu discurso de hoje perante o Congresso brasileiro, Marcelo Rebelo de Sousa pediu que o Brasil continue uma "pátria de liberdade, de democracia, de justiça, de sonho, de esperança, de reinvenção ilimitada, potência universal".
"Nós, portugueses, amamos profundamente no Brasil e em vós, brasileiros, essa alma enleante, indomável, tenazmente obstinada, que vos faz diferentes, que vos faz irrepetíveis na humanidade", acrescentou.
O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, iria fazer o discurso de encerramento, mas cancelou a sua participação nesta sessão no Congresso e não ouviu a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, que acabou por ser a última.
O Presidente português fez da sua intervenção essencialmente um agradecimento aos "queridos irmãos brasileiros" pela sua independência e pela nação que construíram, e ao falar do passado colonial mencionou as "escravidões, explorações e discriminações seculares".
"Que para sempre viva o Brasil, que para sempre viva a fraternal amizade entre o Brasil e Portugal, que para sempre viva a projeção no mundo da nossa mais vasta comunidade de fala, de língua, que no Brasil tem o esteio mais forte, o pilar mais incansável, a mais eterna juventude, o mais perfeito futuro. Obrigado Brasil", declarou, ao encerrar o seu discurso.
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