"Eu espero que ao longo desta semana a Rússia venha a dar-se conta do enorme opróbrio que resulta da sua invasão da Ucrânia", afirmou João Gomes Cravinho, em declarações à agência Lusa e à rádio Antena 1, em Nova Iorque, sobre o debate geral entre chefes de Estado e de Governo na Assembleia Geral da ONU, que começa hoje.
O ministro assinalou que a Federação Russa é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, "portanto, daqueles que têm responsabilidade mais elevada face à Carta das Nações Unidas", e "atropelou a Carta de uma forma perfeitamente visível para todos" ao invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro dando início a uma guerra que já leva quase sete meses.
"Os ataques à soberania e à integridade territorial da Ucrânia são perfeitamente indesculpáveis face àquilo que é o documento fundacional das Nações Unidas. E eu penso que ao longo destes próximos dias haverá muitas oportunidades para a Rússia refletir sobre aquilo que são os pontos de vista da comunidade internacional e a forma como a comunidade internacional reage a esta atitude da Rússia", considerou.
João Gomes Cravinho anteviu que "não haverá unanimidade" na Assembleia Geral da ONU, até porque "há sempre cinco, seis países que apoiam a Rússia independentemente do que seja o caso, o assunto", mas "haverá um apoio esmagador em relação à Ucrânia".
"Vimo-lo ainda recentemente, na sexta-feira, quando se fez aqui uma votação para criar uma autorização especial para que o Presidente Zelensky, obviamente impedido de se deslocar devido à invasão do seu país pela Rússia, falasse à Assembleia Geral das Nações Unidas por videoconferência. Isto normalmente nunca no passado foi autorizado, mas houve um apoio esmagador para esse pedido feito pela delegação da Ucrânia", referiu.
Segundo o ministro, "é muito claro para todos que nesta guerra há um agressor e um agredido" e que "a Ucrânia que está num processo de autodefesa".
"Infelizmente, a Rússia tem demonstrado ter muito pouca sensibilidade em relação àquilo que são as regras e as convicções da comunidade internacional. Mas a nossa expectativa é que eles aproveitem esta oportunidade para ir ouvindo e que procurem agora começar a encontrar uma saída", acrescentou.
Questionado sobre a posição que Portugal assumiu em relação à candidatura da Ucrânia à União Europeia, João Gomes Cravinho defendeu que essa "é uma questão que é muito complexa e que não pode nem deve ser tratada como mera consequência da invasão" pela Rússia, que não constitui "por si só uma razão para imediatamente se aceitar a Ucrânia".
"Mas nós falámos sempre com grande abertura, honestidade, frontalidade com os ucranianos. E isso creio que é muito apreciado pela Ucrânia. Tanto assim que quando fui a Kiev em finais de agosto fui recebido pelo Presidente Zelensky -- o Presidente Zelensky não recebe todos os ministros de Negócios Estrangeiros que por lá passam, mas fez questão de receber-me a mim -- e, devo dizer, de braços abertos, tanto o meu colega, Dmytro Kuleba, o ministro de Negócios Estrangeiros, como o próprio Presidente Zelensky", assinalou.
De acordo com o ministro, Portugal tem com a Ucrânia "uma relação que é de proximidade, de abertura", que não é afetada pela falta de "homogeneidade de pontos de vista".
A 77.ª sessão da Assembleia Geral da ONU tem como lema "Soluções por meio da solidariedade, sustentabilidade e ciência". O tema do debate geral é "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados".
Seguindo a tradição na ONU, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, será o primeiro a discursar no debate geral, que começa hoje.
A intervenção do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, está prevista para quarta-feira.
Em representação de Portugal, intervirá na quinta-feira o primeiro-ministro, António Costa.
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