João Paulo Batalha, que se encontrava ao início da noite junto de Luís Dias, adiantou que o agricultor teve alta do hospital (de São José, Lisboa) durante a tarde e chegou cerca das 20:00 ao local do protesto, num jardim junto à residência oficial de António Costa, onde se encontra numa tenda há 22 dias.
Apesar do seu estado frágil, João Paulo Batalha disse que o agricultor, que foi medicado no hospital porque estava com dores, "está determinado" em continuar em greve de fome.
O ex-presidente da associação lamentou que durante estes 22 dias de protesto nunca tenha tido qualquer "apoio humanitário" ao contrário do que aconteceu quando esteve em greve de fome frente ao Palácio de Belém no ano passado, onde foi acompanhado por pessoal médico da Presidência.
Na quinta-feira, o deputado único do Livre, Rui Tavares, questionou no parlamento o primeiro-ministro, António Costa, sobre Luís Dias, que estava há vários dias em greve de fome junto à residência oficial do chefe do Governo, em São Bento.
Em resposta, no debate sobre política geral no parlamento quanto à crise de alojamento de estudantes no país, o primeiro-ministro, António Costa, disse que tem mantido contacto com Luís Dias "várias vezes ao longo dos anos em que tem estado em manifestações", no entanto, afirmou que o Governo "não tem nada a fazer para responder a essa situação".
Perante o protesto de algumas bancadas, o primeiro-ministro respondeu: "O senhor não tem razão, não há nada a fazer, é muito simples", disse.
Quando esteve em greve de fome em frente ao Palácio de Belém, um protesto que durou cerca de 30 dias e terminou a 06 de junho de 2021, após receber a visita de apoiantes e de falar com o Presidente da República, o agricultor, de 49 anos, disse que se encontrava em greve "contra a indiferença destrutiva do Estado", que alega ter prejudicado o seu projeto agrícola.
A história de Luís Dias, segundo relatou o jornal Público na altura, remonta a 2015, quando apresentou, junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), uma candidatura para ajudas financeiras para avançar com uma exploração de amoras na Quinta da Zebreira, em Castelo Branco.
A candidatura viria a ser recusada por, segundo o DRAPC, não existirem garantias bancárias.
O agricultor viria a recorrer ao Tribunal de Contas Europeu, que lhe deu razão, afirmando que as garantias bancárias não lhe podiam ser exigidas.
Em 2017, após o mau tempo ter destruído a sua exploração, voltou a pedir ajuda à DRAPC e verbas para compensar os prejuízos pela intempérie, mas o apoio voltou a ser recusado.
Dois anos depois, Luís Dias recorreu à provedora de Justiça e, nessa altura, o Ministério da Agricultura considerou, num despacho, que a Quinta da Zebreira poderia ter acesso a verbas do Estado, mas nunca efetuou qualquer pagamento.
Em janeiro deste ano, Luís Dias anunciou que iria voltar a fazer greve de fome, acusando o Governo de "extrema má-fé", após ter sido recebido pelo Ministério da Agricultura.
"O boicote e a prepotência reiterada do Estado tiraram-me tudo. A única coisa que me resta, para além da razão que o Estado reconhece, mas não repara, é a minha dignidade. Não vou ceder. [...] Se quiser discutir isto comigo e por fim repor a justiça que está inteiramente nas suas mãos, estarei acampado em greve de fome à porta da sua residência, a partir da próxima sexta-feira", afirmava numa carta aberta, enviada na altura ao primeiro-ministro, à qual a Lusa teve acesso.
Leia Também: Pagamentos aos setores agroflorestal e das pescas superam 118 milhões