Investigação na PGR? "D. José Ornelas foi surpreendido com a informação"

Conferência Episcopal diz que missionário dehoniano em questão foi ilibado após investigação em 2011, uma vez que não foi encontrada "nenhuma evidência de possíveis abusos" e que foi o bispo quem mandou investigar as suspeitas.

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Notícias ao Minuto com Lusa
01/10/2022 12:38 ‧ 01/10/2022 por Notícias ao Minuto com Lusa

País

Abusos na Igreja

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reagiu, este sábado, à notícia de que foi aberta uma investigação na Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre um alegado encobrimento do Bispo D. José Ornelas de abusos sexuais no seio da Igreja. 

Numa nota, publicada no site oficial, é indicado que já tinha havido uma investigação em 2011, ordenada pelo bispo, na qual o missionário dehoniano suspeito foi ilibado e, por isso, D. José Ornelas diz que terá sido "surpreendido pela informação" hoje noticiada de que decorria uma investigação na Procuradoria Geral da República neste sentido.

"Em 2011, o Sr. D. José Ornelas, na altura superior geral dos Padres Dehonianos, recebeu informações relativas a possíveis abusos cometidos no Centro Polivalente Padre Leão Dehon, na cidade de Gurué, em Moçambique. Imediatamente, deu indicações para que estas suspeitas fossem investigadas pelas competentes autoridades locais da Congregação, as quais não encontraram nenhuma evidência de possíveis abusos", indica a nota da Conferência Episcopal Portuguesa acrescentando que as investigações foram arquivadas e o missionário dehoniano em questão ilibado.

É ainda indicado que D. José Ornelas recebeu a informação de que havia uma investigação por parte de "uma pessoa ligada aos meios de comunicação", mas não recebeu, até ao momento, "qualquer notificação" sobre o processo na PGR, "cujo conteúdo desconhece".

"O Presidente da CEP declara todo o seu interesse em que qualquer caso pendente seja investigado e esclarecido, declarando-se disponível para toda a colaboração a fim de que esse objetivo seja conhecido"

A Conferência Episcopal Portuguesa reforça ainda que "a Igreja tem a missão de proteger os mais frágeis e permitir que cada pessoa possa desenvolver-se, desde a mais tenra idade, num ambiente seguro e acolhedor" e conclui que colaborará para que "todo e qualquer abuso de menores seja investigado"

De lembrar que a notícia de que o Bispo José Ornelas está a ser "investigado após queixa por ajudar a encobrir abusos" foi avançada hoje no jornal Público. Segundo o jornal, a Procuradoria-Geral da República recebeu a denúncia em setembro deste ano através da Presidência da República, "mas só esta semana foi decidido avançar com a investigação" ao caso, que remonta a 2011, quando José Ornelas era o responsável máximo pela Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus.

"Nessa altura, um professor português ouviu de um aluno que frequentava o Centro Polivalente Leão Dehon o relato de alegados abusos cometidos sobre crianças no orfanato dirigido pelo padre Luciano Cominotti", revela o Público, acrescentando que "a denúncia não deixou margem para dúvidas ao professor João Oliveira, que viu nesse gesto do rapaz, assustado e hesitante, a coragem para proteger os mais novos que ainda estariam a ser alvo de abusos. A situação teria sido vivida anos antes pelos mais velhos que agora estariam dispostos a falar".

João Oliveira terá dado conhecimento do caso a José Ornelas, tendo recebido duas cartas "a agradecer 'os alertas', dizendo que o padre Cominotti não estava sob sua autoridade, mas da diocese, e que contra o padre Ilario Verri (diretor da escola) não existiam quaisquer indícios".

Já este ano, o professor enviou uma denúncia, agora visando o próprio bispo José Ornelas por inação, ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que a remeteu à Procuradoria-Geral da República.

Entretanto, José Ornelas foi recebido hoje em audiência, no Vaticano, pelo Papa Francisco. Segundo fonte da diocese de Leiria-Fátima, o caso hoje noticiado pelo jornal Público não terá sido o motivo da audiência, "que já estava marcada há muito".

José Ornelas, de 68 anos, preside à CEP desde 16 de junho de 2020 e é bispo de Leiria-Fátima desde 13 de março deste ano. Ocupou o cargo de superior geral dos Dehonianos entre 27 de maio de 2003 e 06 de junho de 2015.

Especialista em Ciências Bíblicas, doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, José Ornelas chegou a fazer formação missionária em Moçambique.

Foi José Ornelas que, no final de 2021, anunciou a criação de uma comissão independente para o estudo dos abusos na Igreja Católica em Portugal, que é coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que deverá apresentar as conclusões do seu trabalho em janeiro do próximo ano. 

Recorde-se que o Ministério Público abriu 10 inquéritos a partir das 17 denúncias anónimas reportadas pela Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal. A investigação independente continua para apurar e clarificar casos que possam ter existido no seio da Igreja Católica.

[Notícia atualizada às 12h51]

Leia Também: Comissão Independente de abusos na Igreja regista mais de 300 testemunhos

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