Acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, o chefe de Estado português percorreu hoje as ruas de Nicósia, uma cidade que se encontra dividida por muros e arame farpado desde 1974, ano em que as forças militares turcas invadiram o norte da ilha, que se encontra ocupado desde então.
Marcelo percorreu a rua que leva até ao 'checkpoint' de Ledra Street, um ponto de controlo que serve de fronteira entre a República de Chipre e a República Turca de Chipre do Norte, Estado proclamado em 1975 que é apenas reconhecido pela Turquia.
Depois de ter estado ao lado de uma fila de pessoas que mostravam os seus documentos de identificação no posto fronteiriço, à espera de passar para o lado turco, Marcelo caminhou paralelamente aos muros e barreiras de arame farpado que separam a cidade, testemunhando aquilo a que chamou de "coabitação difícil" entre os dois lados.
Enquanto ouvia as explicações de uma guia turística, que o acompanhou durante todo o percurso no centro histórico de Nicósia, Marcelo observou os prédios abandonados que se encontram na chamada 'linha verde', verdadeira 'terra de ninguém' que divide, ao longo de 180 quilómetros, toda a ilha.
Unicamente composta por prédios abandonados, a 'linha verde' é uma zona desmilitarizada proibida à circulação e que, desde 1974 até hoje, é controlada pelas forças de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na rua de Asklipiou -- interrompida, a meio de uma descida, por um muro com arame farpado --, Marcelo vislumbrou a paisagem da parte norte da ilha e os dois minaretes da mesquita de Selimiye Camii, onde esvoaçavam as bandeiras da autoproclamada República Turca de Chipre do Norte e da Turquia.
Nessa mesma rua, Marcelo quis entrar num edifício, entretanto abandonado, cuja porta dá para o lado da República de Chipre, mas o principal da construção encontra-se na zona controlada pelas forças da ONU.
Em declarações aos jornalistas no final da sua visita, Marcelo sublinhou que a "grande conclusão" que retirou do seu percurso por Nicósia foi que "a esperança é a última coisa a morrer".
"Quem já viu o exemplo do muro de Berlim -- as nossas gerações já viram isso -- têm a noção exata de que há processos que são mais longos ou menos longos, mas que há certo tipo de evoluções que acabam por suceder ao longo da história", sublinhou.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "a comunidade internacional tem sido representada pelas Nações Unidas", que, através do seu secretário-geral, António Guterres, "tem sido muito persistente, não só em resoluções, mas até em ações concretas de procura de formas de superar este impasse".
"É verdadeiramente um impasse, um beco sem saída em que a saída, no fundo, é uma 'linha verde', que é uma não saída. Essa é a posição das Nações Unidas, é a posição da União Europeia (UE), é a posição de Portugal, é a posição da comunidade internacional como um todo", frisou.
O Presidente garantiu que a questão cipriota "não deixa de estar na agenda internacional", mostrando-se seguro de que "nunca deixará de estar": "É uma questão de princípio", referiu.
Durante a visita, Marcelo foi convidado a visitar a histórica igreja ortodoxa de Panagia Phaneromeni, interrompendo um batizado que estava em curso, com as pessoas convidadas a mostrarem algum desconforto com a súbita entrada de jornalistas, seguranças e vários membros da comitiva do Presidente da República.
Mais tarde, durante um encontro com a comunidade portuguesa que reside em Chipre, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o principio segundo o qual "a batizado, a casamento, não vai ninguém sem ser convidado".
Leia Também: Marcelo "falou com a filha do militar" da GNR que morreu durante serviço