Marcando presença nas celebrações do aniversário da Polícia Marítima, em Setúbal, o chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, confirmou que tem sido alvo de ameaças, tal como avançado pelo Correio da Manhã (CM), este domingo. O almirante assegurou, contudo, que confia "totalmente nas forças de segurança".
"Têm havido alguns problemas, mas confio totalmente nas forças de segurança, na nossa capacidade de combater este tipo de fenómenos e na democracia", disse, em declarações aos jornalistas, salientando que não está preocupado com as ameaças.
"Por enquanto é 'harassment' [assédio, em português], como dizem os ingleses. Mas pode estar relacionado com coisas mais perigosas. Isso são as forças de segurança que terão de fazer a avaliação", complementou.
Questionado quanto às medidas de segurança tomadas para se proteger, Gouveia e Melo brincou que "seria uma informação muito útil para o lado oposto", razão pela qual não as divulgou.
Em causa estarão ameaças de militares e de redes de segurança noturnas com ligações a gangues da Margem Sul, dos quais os ex-fuzileiros responsáveis pela morte do agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) Fábio Guerra, espancado à porta de uma discoteca em Lisboa, a 19 de março, faziam parte.
O material, que inclui cartas recebidas por correio e mensagens via telemóvel foi, entretanto, entregue à Polícia Judiciária (PJ), segundo a Marinha.
Ao que o CM apurou, Gouveia e Melo está na mira destes grupos por ser um protetor das forças e serviços de segurança, que procura combater as redes internas da Marinha ligadas à máfia da noite.
"Não quero arruaceiros na Marinha", disse, na altura
Recorde-se que tudo aconteceu na madrugada de 19 de março, junto à discoteca Mome, em Lisboa. Na altura, a PSP informou que junto à discoteca encontravam-se "quatro polícias, fora de serviço, que imediatamente intervieram, [quando começaram a surgir desacatos dentro do estabelecimento, que passaram para o exterior], como era sua obrigação legal". No entanto, acabaram por ser agredidos violentamente por um dos grupos, formado por cerca de 10 pessoas.
O agente Fábio Guerra, de 26 anos, morreu a 21 de março, no Hospital de São José, em Lisboa, devido às "graves lesões cerebrais" sofridas na sequência das agressões de que foi alvo.
Dois dos indivíduos alegadamente responsáveis pelo ataque foram prontamente identificados pela PJ como sendo fuzileiros da Marinha Portuguesa, estando em prisão preventiva desde o primeiro interrogatório judicial. Um terceiro suspeito está a monte e, em março, a Polícia Nacional espanhola colocou uma publicação nas várias redes sociais a pedir a colaboração dos cidadãos para encontrarem o fugitivo.
Dirigindo-se aos militares no dia do funeral de Fábio Guerra, Gouveia e Melo foi taxativo: "Quando vejo alguém a pontapear um ser caído no chão, vejo um inimigo de todos nós, dos seres decentes, vejo um selvagem, vejo o ódio materializado e cego, vejo acima de tudo um verdadeiro covarde".
"O ataque selvático, desproporcional e despropositado não pode ter desculpas e justificações nos nossos valores, pois fere o nosso juramento de defender a nossa pátria. O agente Fábio Guerra era a nossa pátria, a PSP e as Forças de Segurança são a nossa pátria e nela todos os nossos cidadãos", sublinhou, indo mais longe ao dizer que "ver fuzileiros envolvidos em desacatos e em rixas de rua não demonstra qualquer tipo de coragem militar, mas sim fraqueza, falta de autodomínio, e uma necessidade de afirmação fútil e sem sentido".
"Não quero arruaceiros na Marinha; não quero bravatas fúteis, mas verdadeira coragem, física e moral; não quero militares sem valores, sem verdadeira dedicação à Pátria", rematou.
[Notícia atualizada às 13h49]
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