"Não vamos centrar a ação naqueles que leem apesar do Plano Nacional de Leitura, que serve sobretudo para chegar aos não leitores. Essa é a parte mais difícil, mas aquela que nos permitirá sair da constatação para a ação", afirmou João Costa.
O ministro da Educação falava na sessão de abertura da conferência anual do Plano Nacional de Leitura 2027 (PNL 2027) que decorre hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, sob o mote "Como falamos de livros?".
"É uma questão muito relevante", explicou depois em declarações aos jornalistas, sublinhando que a ausência de situações em que se fala sobre livros é um dos principais indicadores que condiciona a leitura, além da condição socioeconómica ou da disponibilidade de livros em casa.
No entanto, acrescentou o ministro, essa discussão deve envolver outras áreas, e não apenas a Educação, como a Cultura, através da articulação com os planos nacionais das Artes e do Cinema.
"Porque, muitas vezes, um filme é o que vai chamar uma criança para ler o livro desse filme e conhecer um escultor pode suscitar curiosidade de ler a biografia. A integração destas políticas é absolutamente fundamental", defendeu o ministro, considerando de igual modo que a tecnologia não é necessariamente inimiga da leitura.
"Em vez de estarmos, mais uma vez, a profetizar o fim da leitura, vamos assumir que a leitura vai continuar a viver, mas vive num contexto novo e, por isso, a quem define políticas de promoção da leitura compete perceber como é essa relação neste mundo novo", sustentou.
Por outro lado, a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior pode também ajudar na promoção da leitura, do ponto de vista da investigação académica, que contribui para a discussão de "como se ensina a ler" e dos fatores que melhor promovem esse hábito, e do ponto de vista da formação de professores.
Outro papel importante, no entender do governante, é o das comunidades locais, "porque se os jovens não estiverem mergulhados em comunidades de leitores, dificilmente se tornarão leitores".
Do lado da Educação, que, de acordo com um relatório da avaliação da implementação do PNL 2027 entre 2017 e 2020, é o ministério que tem estado mais envolvido no plano, o ministro destacou um conjunto de medidas, como o investimento de cerca de um milhão de euros para a compra de novos livros para as bibliotecas escolares ou a disponibilização de plataformas digitais de apoio à leitura para os professores, ambas previstas no Orçamento do Estado para 2023.
Referiu ainda iniciativas e atividades que as escolas têm implementado recentemente no âmbito do plano de recuperação das aprendizagens, afetadas durante a covid-19, como o projeto "10 minutos a ler", em que, todos os dias, a escola para durante 10 minutos dedicados apenas à leitura.
"O PNL 2027 tem uma missão que se torna cada vez mais urgente. Estamos no ponto certo para fazer isso, mas precisamos de passar da constatação para a ação", sublinhou João Costa, afirmando que desde a criação do PNL, em 2006, a literacia dos alunos portugueses melhorou muito, "mais importa fazer mais".
Durante a abertura da conferência, que este ano propõe, precisamente, a discussão de como diferentes áreas da sociedade, do ensino à cultura, falam dos livros, a comissária do PNL 2027, Regina Duarte, sublinhou também esse desígnio.
"O PNL atua numa esfera privilegiada, porque os livros possuem um estatuto dificilmente comparável. Mesmo que não sejam desejados, são sempre reconhecidos", começou por dizer, concluindo que o objetivo do plano é contribuir para que sejam mais vezes desejados e elevar os níveis de leitura em Portugal.
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