João Carreira, o jovem acusado de crimes de terrorismo após ter planeado um alegado ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, poderá não ser declarado inimputável.
Segundo o psiquiatra forense Bruno Trancas, que testemunhou esta sexta-feira no julgamento do estudante de 19 anos, João - que foi diagnosticado com uma perturbação do espectro do autismo - “não estava totalmente alheio das consequências dos seus atos”.
“O examinando, em razão do autismo e da depressão, não estava totalmente alheio das consequências dos seus atos”, disse o especialista, citado pela CNN Portugal, ressalvando que, apesar de não estar “totalmente capaz de compreender as consequências emocionais”, o estudante tinha capacidade de decidir.
Decorre esta sexta-feira a segunda sessão do julgamento, onde estão a ser ouvidos: o perito que fez a análise psicológica de João, uma colega da faculdade, com quem o jovem partilhou as suas intenções, e a sua mãe.
Durante a audição, a colega, Rya, revelou que recebeu uma mensagem a dar conta de um possível ataque duas semanas antes de o jovem ser detido. Contudo, achou “sempre que era uma brincadeira”.
“Nunca me passou pela cabeça que ele fosse fazer isso”, disse, acrescentando que, uns dias antes, João tinha tido nota zero num projeto por plágio.
A mãe do jovem alegou que o filho "não era capaz" de avançar com o ataque e garante que nunca viu armas no quarto do estudante.
João Carreira foi ouvido em tribunal no passado dia 18 de outubro, onde confessou que queria ir para o auditório da Faculdade de Ciências “atirar cocktails molotov, atirar setas e esfaquear pessoas”, sem um alvo “em especial”. Os motivos estariam relacionados com uma “depressão, o facto de estar em Lisboa e querer a atenção das pessoas da comunidade”.
O jovem foi detido a 10 de fevereiro pela Polícia Judiciária, após indicação do FBI (que surgiu a partir de uma denúncia de um utilizador). Além de armas proibidas - entre as quais uma besta e várias facas - foram apreendidos outros artigos, "suscetíveis de serem usados na prática de crimes violentos" e vasta documentação, "além um plano escrito com os detalhes da ação criminal a desencadear", segundo a nota divulgada então pela PJ.
No dia seguinte, ficou em prisão preventiva, tendo a medida de coação sido substituída, posteriormente, por internamento preventivo no Hospital Prisional de Caxias, com o Ministério Público a alegar "forte perigo de continuação da atividade criminosa e um intenso perigo de perturbação da tranquilidade e da ordem públicas".
De acordo com a acusação do MP, João Carreira começou a mostrar interesse pelo fenómeno dos assassínios em massa em 2012, com apenas 9 anos, que se viria a desenvolver a partir de 2018, com 14/15 anos, para "um fascínio e uma obsessão" por este tipo de conteúdos, consumindo de forma "compulsiva" através de redes sociais, aplicações e fóruns online, nomeadamente, Discord, Reddit e Tumblr.
[Notícia atualizada às 12h04]
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