O criador da plataforma eletrónica Football Leaks, e a cara por detrás do Luanda Leaks, Rui Pinto, considerou, esta sexta-feira, que já em 2016 se falava em “interferência e falta de transparência” no que dizia respeito à relação de António Costa, primeiro-ministro, e a empresária angolana Isabel dos Santos, que ‘estalou’ com o brotar da investigação à sua fortuna.
“Em 2016, António Costa recebia de braços abertos Isabel dos Santos em São Bento. Logo aí surgiram reações adversas: interferência e falta de transparência, foram algumas das palavras utilizadas. Foram anos de promiscuidade à vista de todos que apenas terminaram com o Luanda Leaks”, escreveu o hacker português, num publicação na rede social Twitter, acompanhada por uma manchete do jornal Expresso, datada de março de 2016, onde se pode ler “Costa dá luz verde a Isabel dos Santos no BCP”.
O tema voltou a ser falado a propósito de um livro do ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que dá conta de que o antecessor de Mário Centeno foi pressionado para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
Em 2016, António Costa recebia de braços abertos Isabel dos Santos em S. Bento. Logo aí surgiram reacções adversas: interferência e falta de transparência, foram algumas das palavras utilizadas. Foram anos de promiscuidade à vista de todos que apenas terminaram com o #LuandaLeaks pic.twitter.com/OoqjABdKQF
— Rui Pinto (@RuiPinto_FL) November 11, 2022
Nessa linha, o primeiro-ministro admitiu, na quinta-feira, processar Carlos Costa, por ofensa à sua honra. "A única coisa que eu posso dizer é que, como é sabido, através do Observador, foram proferidas pelo doutor Carlos Costa declarações que são ofensivas da minha honra, do meu bom nome e da minha consideração", disse, em declarações aos jornalistas.
O responsável adiantou ter contactado Carlos Costa, que "não se retratou nem pediu desculpas".
"E, portanto, constituí como meu advogado o doutor Manuel Magalhães e Silva, que adotará os procedimentos adequados contra o doutor Carlos Costa, para defesa do meu bom nome, da minha honra e consideração. É a justiça também a funcionar", complementou.
No mesmo dia, o vice-presidente do Partido Social Democrata (PSD), António Leitão Amaro, apelou ao primeiro-ministro para que esclarecesse "se e porquê interferiu" junto do Banco de Portugal para "manter intocável Isabel dos Santos".
Por seu turno, o partido Chega anunciou que pedirá uma audição do antigo governador do Banco de Portugal, de modo a apurar se Costa tentou proteger a empresária angolana Isabel dos Santos, tendo contactado o PSD para constituir uma comissão de inquérito.
Já a deputada do PAN, Inês de Sousa Real, afirmou que, a comprovar-se a interferência, "é evidente que é grave" e, "sendo grave, o senhor primeiro-ministro vai ter de vir prestar esclarecimentos ao país sobre o assunto".
Recorde-se que o projeto de investigação à fortuna de Isabel dos Santos, conhecido como Luanda Leaks, foi o resultado de uma fuga de informação de mais de 715 mil ficheiros, que foram analisados por vários órgãos de comunicação social internacionais - como o The Guardian, a BBC e o jornal Expresso, em Portugal - contando com mais de 120 jornalistas. O processo apurou as centenas de benefícios conseguidos pela empresária angolana durante a presidência do seu pai, José Eduardo dos Santos.
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