"Não é possível trabalhar esta área e no combate aos femicídios se não existir um efetivo investimento nos recursos. É importante mais rede e mais investimento. É importante muito mais rapidez em relação aos processos. A demora dos processos pode determinar quem sobrevive e quem não sobrevive à situação de violência", disse a presidente da UMAR.
Liliana Rodrigues, que falava aos jornalistas após terem sido apresentados os resultados preliminares do relatório do Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), também defendeu que "a formação especializada em profissionais de primeira linha é muito importante" e destacou a importância de "trabalhar para a prevenção".
Numa conferência de imprensa que decorreu no Porto, e na qual a presidente da UMAR recordou que a equipa do OMA trabalha de forma voluntária, foi divulgado que entre 01 de janeiro e 15 de novembro deste ano, foram mortas 28 mulheres, 22 das quais em contexto de relações de intimidade.
"Não estamos numa tendência crescente, mas não vemos os números a diminuir como gostaríamos", analisou.
Já o vice-presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), Manuel Albano, defendeu que não se deve olhar para as vítimas como alvo de medidas de coação, mas sim de proteção.
"Devemos olhar para as vítimas não como sujeitos de medidas de coação. Muitas vezes, socialmente, impomos às vítimas até a sua própria condenação. Como se fossem obrigadas a sair da sua casa. É quase responsabilizar a vítima por ter sido vítima", disse o responsável.
Manuel Albano disse que é necessário "mudar o 'chip' que responsabiliza a vítima", lembrando que estas "são autodeterminadas e têm capacidade de decisão de como querem conduzir a sua vida".
A conferência de hoje decorreu na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, uma das entidades que, a par da UMAR, faz parte do projeto FEM-UnitED: Unid@s para prevenir o femicídio na Europa.
"O Femicídio pode ser Prevenido: Liga os Pontos" é o tema de um encontro que decorre hoje no Porto e que é um dos momentos e um projeto que, entre outras atividades, resultou em cinco vídeos de sensibilização voltados para a prevenção do femicídio.
A investigadora que trabalha com a UMAR Cátia Pontedeira frisou a importância de "continuar a fazer divulgação e sensibilização" porque, disse, "quando falamos de femicídios e do número de mulheres assassinadas, não estamos a falar só de números, mas de famílias destruídas".
"Precisamos urgentemente de prevenir o femicídio, prevenir a violência de género e só o podemos fazer investindo na identificação das problemáticas e prestando atenção às recomendações das investigações que resultam deste fenómeno", defendeu.
A UMAR e o OMA fazem análise de dados, com base em notícias publicadas nos órgãos de comunicação social, desde 2004, tendo somado até aqui 623 casos de mulheres assassinadas.
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