"Houve, de repente, no aperto económico, quem defendesse que era de pôr entre parêntesis as preocupações que eram as preocupações da ação climática, para, durante um tempinho, enquanto durasse a crise e fosse necessário recuperar, voltar a algumas soluções do passado", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, recuando ao tempo em que "surgiu a pandemia e as economias pararam e depois a guerra e a crise económica acentuou-se".
Numa aula debate na Escola Secundária Domingos Sequeira, em Leiria, onde a temática central foi a COP27, conferência do clima da Organização das Nações Unidas, o chefe de Estado frisou que "isto era perigosíssimo", mas reconheceu que "é muito tentador, porque as opiniões públicas não querem aumento de preço de energia".
Enumerando aspetos que considerou positivos e negativos da COP, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que a conferência "foi marcada pela ressaca da pandemia, pela guerra, pela recuperação económica que não está a dar-se no mundo ao ritmo a que se pretende e, portanto, por um impasse e por um não avanço".
O chefe de estado alertou ainda que na "balança de poderes que pode emergir da guerra" na Ucrânia "vão pesar muitíssimo potências" para as quais a questão das alterações climáticas "não é uma prioridade fundamental", situação que classificou como "problema preocupante"
Segundo o chefe de Estado, "é preciso que nos Estados Unidos da América se converta numa prioridade nacional" e que "a emergência da China como grande potência económica obriga" a que "também mude a sua posição, comece a mudar mais aceleradamente a sua posição sobre alterações climáticas".
"A emergência da Índia como potência mundial obriga ao mesmo", defendeu ainda.
Sobre Portugal, considerou que o país tem "obrigação de acelerar" o passo nas energias renováveis.
"Chegar, se possível, antes de 2030, com perto 80% da energia renovável, porque isso significa, também, menor dependência energética em relação ao exterior", declarou, destacando a importância de o país não depender tanto "de contingências que obrigaram grandes economias como a Alemanha, como a Itália, como os países de Leste, isto é boa parte dos países europeus, que, quando de repente surgiram problemas no fornecimento do gás russo, a terem de procurar a correr gás, por todo o lado e, nalguns casos, até a acentuar a quota de petróleo ou de combustíveis petrolíferos".
Questionado sobre a energia nuclear no caso específico de Portugal, o Presidente da República admitiu não ver vantagem, "tendo havido a opção que foi feita num tempo devido e que permitiu o crescimento das renováveis, a estar a infletir a política no sentido de introduzir o nuclear".
Quanto à exploração de lítio, Marcelo Rebelo de Susa assinalou que "é um debate que está em curso e tem havido o bom senso, até agora, de o fazer com serenidade, com protestos também e com petições muito diferenciadas antes de se tomar decisões, quer a nível global, quer sobretudo a nível de cada uma das localizações das potenciais explorações".
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