O Presidente da República voltou a defender, esta sexta-feira, que o questionário de escrutínio a governantes deveria ser realizado pelos atuais membros do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa recusou comentar diretamente o caso de João Gomes Cravinho, mas voltou a salientar a importância do questionário para governantes, inclusive aos que já se encontram no Governo.
"São exigências naturalmente legitimas de recolha de dados acerca de governantes e de acompanhamento do seu percurso. Para mim, a resposta era muito simples. Aplicava-se [o questionário] cegamente a todos porque, à medida que o tempo passa, podem surgir questões que não eram do conhecimento ou dos próprios, ou da opinião publica, ou dos cidadãos, ou da comunicação social, e que dizem respeito ao passado. E, no entanto, são pertinentes ao futuro", disse.
Esta sexta-feira, o Expresso avançou que João Gomes Cravinho tinha, afinal, sido informado em março de 2020 que o custo das obras do antigo Hospital Militar de Belém estava a derrapar, obras essas que foram efetuadas durante o mandato de Cravinho como ministro da Defesa. A notícia surge depois de Gomes Cravinho ter ido ao Parlamento, em dezembro, e de ter dito que não tinha autorizado um aumento de despesa além dos 750 mil euros inicialmente previstos.
Questionado sobre se o governante devia demitir-se, caso se confirme que estava a mentir à Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa disse que não se pronuncia "não conhecendo os factos novos". No entanto, o Presidente deixa claro que é "inevitável" que existam "factos que suscitem o legítimo controlo da opinião pública, dúvidas, interrogações e esclarecimentos a prestar".
O ministro dos Negócios Estrangeiros mantém-se debaixo de fogo, depois de, em dezembro, as autoridades judiciárias terem desencadeado a operação 'Tempestade Perfeita', uma investigação focada na derrapagem nas obras de requalificação do Hospital Militar de Belém, que decorreram quando era o titular da pasta da defesa, que tutelou entre 2018 e 2022. A operação já resultou em cinco detidos, entre os quais o ex-diretor-geral de Recursos da Defesa Nacional, Alberto Coelho, outros dois altos quadros da Defesa e dois empresários, tendo sido constituídos 19 arguidos.
Segundo o Ministério Público, em causa está o custo avultado das obras de reconversão do hospital num centro de apoio à Covid-19. A obra custou 3,2 milhões de euros, quando o orçamento inicial era de 750 mil euros.
Ministério da Educação "já cedeu em alguma coisa"
O chefe de Estado comentou ainda a greve dos professores e as negociações entre o Governo e os sindicatos que, depois de nova reunião esta sexta-feira, voltaram a não chegar a acordo. Considerou que o Ministério da Educação "já cedeu em alguma coisa", mas considerou que "é natural" que os sindicatos "digam que deve ir mais longe", especialmente no que diz respeito à recuperação das carreiras dos docentes.
Leia Também: "Necessidade de esclarecimento cabal" a derrapagem em Hospital Militar