Professores de Vila Real em luta e contra "Ministério de mínimos"

Palavras de ordem como "Para cá do Marão lutamos pela educação" e "Não paramos" foram ouvidas hoje, em Vila Real, onde mais de 500 professores prometeram luta "até ao limite" e protestaram contra um "Ministério de mínimos".

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Lusa
06/02/2023 12:49 ‧ 06/02/2023 por Lusa

País

Greve dos professores

Em Vila Real cumpriu-se hoje a greve distrital convocada por oito organizações sindicais, com uma adesão que segundo fonte sindical ronda os 98%, e a avenida Carvalho Araújo, no centro da capital de distrito, foi o ponto de encontro de professores provenientes de vários pontos deste território.

Os docentes cantaram palavras de ordem como "Não paramos", "Portugal escuta, a escola está em luta" ou "Para cá do Marão lutamos pela educação" e empunharam várias tarjas e cartazes com mensagens como "Quem ensina a voar não pode rastejar", "A educação é a única forma de mudar o mundo" e "Professor/a pagar para dar aulas, anos e anos com a casa às costas".

A luta que move os professores é pela escola, pelos alunos, pela qualidade do ensino público, "muito mais" do que só o congelamento de escalões.

"Isso é a gota de água, mas é muito mais, é também a degradação dos currículos que estão no mínimo, parece que este é um 'Ministério de mínimos' neste momento, as aprendizagens essenciais são um descalabro, os falsos números do sucesso. Há momentos em que temos mesmo de lutar e este é um deles", salientou Domingas Alhais, professora há 36 anos.

A lecionar na escola secundária Camilo Castelo Branco, Domingas Alhais disse que "é o copo cheio" que está na origem dos protestos dos professores, que, neste ano letivo, duram há quase dois meses, mas que já se acumulam há vários anos.

"Esta camisola que trago vestida é de 2008 e continua atual", frisou, destacando a palavra ali escrita: "Respeito".

Luís Gomes faz diariamente a viagem de Lamego para Vila Real, uma deslocação que não é muito grande, mas é "muito cara".

"São cerca de 200 euros por mês. O orçamento familiar fica logo reduzido. Além do mais sou um professor contratado", salientou o professor da Camilo Castelo Branco.

Esta é uma razão da luta do docente, mas a ela acrescem a "desvalorização da carreira", os alunos e "a própria escola pública" que "deve ser valorizada e não atacada, como tem acontecido ultimamente".

Luís Gomes disse que os professores estão dispostos a lutar "até ao limite". "Se o limite for Bruxelas, se calhar até Bruxelas", afirmou.

Professora há 28 anos, Cecília Ribeiro é de Vila Real, dá aulas em Alijó e reclama por "estabilidade".

"Estou em Alijó, antes disso em Vila Pouca de Aguiar, Mesão Frio, Régua, em Mirandela. Vou podendo ir a casa todos os dias, o que é importante. Estou mais perto, mas os meus filhos estão menos dependentes, na fase em que eles precisavam mais eu não estava cá", salientou.

Cecília Ribeiro contou que a sua filha dizia que a "mãe era a senhora que fazia os jantares e passava a ferro".

"Hoje estamos aqui por uma infinidade de razões. O dinheiro não nos chega para viver sequer, as deslocações são pagas por nós, temos um computador, mas continuamos a ser nós a pagar o papel, a esferográfica, a secretária, luz, gasóleo, a pagar tudo, o dinheiro não nos chega. Nós só queríamos uma atualização da nossa carreira", frisou.

Alexandre Fraguito, do Sindicato dos Professores do Norte, apontou para uma adesão à greve a rondar os "98%" em todo o distrito e referiu que, na principal avenida de Vila Real, se juntaram "mais de 500 professores".

As escolas não fecharam para cumprir os serviços mínimos, mas na esmagadora maioria dos estabelecimentos de ensino do distrito não há aulas hoje.

"Faltam só mais dois dias, Viseu e acabamos no Porto, na quarta-feira, e tem sido em crescendo", apontou, referindo-se aos 18 dias de greves distritais que estão em curso.

Neste território onde o despovoamento preocupa cada vez mais, Alexandre Fraguito disse que os problemas dos professores também aqui se intensificam. "Há sempre uma diminuição de alunos, menos horários para os professores e, nessa perspetiva, saímos sempre penalizados", salientou.

A contagem do tempo integral de serviço, o corpo docente envelhecido e progressão na carreira bem como os concursos foram outras das preocupações destacadas pelo dirigente sindical.

A greve distrital foi convocada por oito organizações sindicais, a Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Pró-Ordem dos Professores - Associação Sindical/Federação Portuguesa dos Professores, Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (Sepleu), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (Sinape), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (Sindep), Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (Spliu).

Atualmente, estão a decorrer outras duas greves: uma da iniciativa do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação que começou em dezembro por tempo indeterminado e que os professores têm cumprido de forma parcial, e outra convocada no início do 2.º período pelo Sindicato Independente de Professores e Educadores ao primeiro tempo de aulas de cada docente, que se deverá prolongar até fevereiro.

Leia Também: STOP vai avançar com "formas criativas" de lidar com serviços mínimos

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