"A Igreja está mais preocupada com as vítimas do que consigo própria. A Igreja neste momento não está autocentrada em si própria, está preocupada com quem sofre e, como a dor não prescreve, a nossa atitude é de partilha de dor de tudo o que nos for possível", afirmou Francisco Senra Coelho.
O arcebispo de Évora falava aos jornalistas no final da apresentação pública do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que recebeu 512 testemunhos validados.
Questionado sobre o facto de haver abusadores que permanecem em funções dentro da Igreja Católica, Francisco Senra Coelho defendeu que haja "absolutamente tolerância zero", referindo apenas que na sua arquidiocese não há nenhum caso pendente.
"Tem de ser acelerado e radical, não há tolerância para esse assunto. Não se pode exercer o ministério com esse tipo de comportamentos, que são fruto de problemas psiquiátricos, etc", apontou.
Defendeu que seja dada ajuda aos abusadores, mas nunca permitindo que eles sejam um perigo para a sociedade.
"Queremos uma igreja segura, uma igreja que merece confiança. Queremos que a partir daqui as nossas escolas, os nossos colégios, os nossos seminários, as nossas igrejas sejam em Portugal os lugares mais seguros para as crianças. Não tenham dúvida disso", sublinhou.
Francisco Senra Coelho disse que a Igreja vai tirar as ilações próprias, na sequência do relatório, e assumiu ter ficado chocado com todos os testemunhos que foram lidos, admitindo ter noção dos números apresentados.
Assumiu também que a Igreja Católica deveria ter tido outra atitude perante as vítimas, afirmando que "não foi um processo bem conduzido".
"Temos consciência de que temos de pedir profundamente perdão a todos", afirmou.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022.
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