Anastácio Alves, um padre madeirense que estava desaparecido desde 2018, dirigiu-se na quinta-feira à Procuradoria-Geral da República (PGR) de Lisboa para se entregar e "assumir as suas responsabilidades", revelou o jornal Observador.
Na altura, o padre foi acusado, à revelia, de quatro crimes de abuso sexual de crianças e de um crime de atos sexuais com adolescente na diocese do Funchal.
"Estou cá, pode parecer banal mas é sincero, primeiro que tudo para colaborar com a Justiça, para assumir as minhas responsabilidades, e também para ajudar a auxiliar as vítimas", disse, na única declaração permitida pelos advogados, ao Observador.
O jornal conta que Anastácio chegou à PGR de Lisboa acompanhado dos seus advogados, mas acabou por ser informado que teria de se entregar no tribunal responsável pelo seu caso, localizado na ilha da Madeira.
As burocracias deixaram o padre acusado de pedofilia em liberdade.
Agora a defesa pretende enviar um requerimento ao Ministério Público do Funchal para que Anastácio possa ser notificado da acusação em Lisboa.
De recordar que o Ministério Público (MP) da Madeira revelou, no início do ano, que acionou o mecanismo de "cooperação judiciária internacional em matéria penal, com vista de notificar" o ex-padre do Funchal. A reação do MP surge depois de vários meios de comunicação terem noticiado que nada estava a ser feito para localizar Anastácio Alves, de 59 anos, colocado numa paróquia nos arredores de Paris, em 2018, da qual desapareceu.
Em setembro de 2018, quando o padre Anastácio Alves exercia funções em França, a Diocese do Funchal comunicou o seu afastamento da ação pastoral por suspeitas de abuso sexual de menores na região autónoma. O ex-sacerdote permanecia em parte incerta desde então.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022, anunciou o seu coordenador, Pedro Strecht, ao apresentar o relatório na segunda-feira.
Leia Também: "Não temo nem deixo de temer" que abusos sexuais manchem JMJ