Risco de surto de Marburg atingir Portugal é baixo, mas existe

O infecciologista Jaime Nina considera que Portugal pode estar "relativamente" descansado em relação ao surto de Marburg na Guiné Equatorial, apesar do risco de casos importados, elegendo Angola como a maior ameaça se a doença voltar a atingir este país.

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Lusa
19/02/2023 08:59 ‧ 19/02/2023 por Lusa

País

Guiné Equatorial

Em entrevista à agência Lusa a propósito do surto da doença na Guiné Equatorial, que já causou nove mortos neste país e se expandiu para os Camarões, Jaime Nina recordou que Portugal tem uma resposta preparada e que será ativada em casos suspeitos.

O sistema foi várias vezes testado aquando da ameaça do Ébola (um vírus "primo" do Marburg) em 2013-2014, face a um surto na Guiné-Conacri (que faz fronteira com a Guiné-Bissau), Serra Leoa e Libéria, elegendo como hospitais de referência o de São João, no Porto, e os hospitais Curry Cabral e Dona Estefânia, em Lisboa.

Relativamente rara, mas com uma elevada letalidade, a doença de Marburg representa um maior risco para Portugal quando atinge países com maiores ligações, como aconteceu em 2004 - 2005, em Angola, palco do maior surto de Marburg, com o epicentro em Uige.

Segundo Jaime Nina, que na altura esteve presente no local do surto e pode testemunhar a forma como as autoridades lidaram com o mesmo, dos 374 casos confirmados, 329 foram fatais, o que representa uma taxa de letalidade de 81%.

"O maior risco é Angola, que tem provavelmente morcegos infetados", que a qualquer momento podem passar a um humano a doença, e é um país com o qual Portugal tem fortes ligações, disse, acrescentando: "Se a pessoa quiser preocupar-se, pense em Angola".

Em relação ao palco principal do surto atual - a Guiné Equatorial, membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - o infecciologista do Hospital Egas Moniz e professor de Infecciologia e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa refere que serão poucos os viajantes para e de Portugal, o que diminui logo o risco.

Ainda assim, ressalvou, há sempre o risco de casos importados.

E recordou que o contágio é "relativamente difícil", ao contrário de vírus como o que causa a covid-19, exigindo contactos com a pessoa, o seu sangue, vómito ou fezes.

Não existindo uma verdade absoluta sobre as suas causas, sabe-se que esta febre hemorrágica é causada pelo vírus Marburg, assim batizada por ter sido identificada na cidade alemã com o mesmo nome.

Nesta cidade, um centro de investigação trabalhava com macacos importados de Belgrado, uns dos quais com origem no Uganda e que terão sido a fonte infetada e identificada em 1967.

O reservatório do vírus é o morcego, animal que pernoita nos finos e altos ramos de árvores, acima dos macacos, a quem desta forma terá transmitido o vírus, através das fezes que consegue produzir durante o sono.

Jaime Nina refere que tem havido surtos em toda a África intertropical: "Angola, na República Democrática do Congo, Uganda, Quénia, Guiné-Conacri e nos Camarões. Era uma questão de tempo até ser diagnosticado na Guiné Equatorial".

Mas sublinha que "só se encontra o que se procura".

"Para que um caso seja notificado é preciso um caso, alguém que o diagnostique e que o caso diagnosticado seja notificado. Ou seja, é necessário médicos para fazer o diagnóstico e uma rede de saúde pública para notificar casos, mas na maior parte dos países africanos isso não funciona", afirmou.

Por esta razão conclui: "Muito provavelmente existiram surtos sem que se desse por isso", para o que terá contribuído o isolamento das pessoas infetadas.

Um vírus com a letalidade como o Marburg exige um despiste rápido e atempado, o isolamento dos doentes e dos seus contactos próximos e uma proteção adequada dos profissionais de saúde, a par de desinfeção, medidas que devem ser do conhecimento da população, para que esta as entenda na altura da sua aplicação.

Leia Também: Surto de febre hemorrágica na Guiné Equatorial não deve "semear pânico"

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