Politécnicos discordam do Governo no modelo de acesso ao ensino superior
A presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) disse hoje à agência Lusa que este órgão discorda da proposta do Governo no modelo de acesso ao ensino superior que exige duas provas, prejudicando o interior.
© iStock
País Ensino Superior
"Relativamente ao modelo apresentado, com o qual não concordamos e temos muitas reservas, vamos manifestar isso, exatamente, que tem a ver com o aumento do número de provas de ingresso no ensino superior", adiantou Maria José Fernandes.
A responsável, que também preside o Politécnico do Cávado e do Ave, falava hoje à agência Lusa, em Viseu, onde o conselho coordenador esteve reunido, desde quinta-feira, a debater, principalmente, dois assuntos que fazem parte da proposta do Governo.
A proposta passa por alterar, de uma para duas, o número de provas que os alunos, que queiram ingressar no ensino superior, terão de fazer - "atualmente, cerca de 73% dos cursos exigem uma prova de ingresso", notou.
A título de exemplo, apontou a área das engenharias, onde, "a maior parte dos cursos, pode ingressar só com a matemática" e, agora, a proposta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é que sejam, "pelo menos, duas obrigatórias".
"Nós fizemos uma análise ao impacto que isto poderá ter e verificámos que, com dados de 2019, o último ano antes da pandemia, haveria uma quebra de, pelo menos, 10% no número de candidatos", contabilizou.
Após uma "análise ao nível da instituição", acrescentou Maria José Fernandes, o CCISP concluiu que, "naturalmente, nas instituições do interior [do país] esse impacto é maior", o que "preocupa" os seus responsáveis.
"E não conseguimos entender o racional de se alterar isto, porque os alunos já fazem os exames de conclusão do 12.º, portanto, já fazem no mínimo três exames obrigatórios e, depois, para o ingresso, entendemos que podem continuar a ingressar com uma prova e que o impacto será menor", defendeu.
O outro assunto em debate tem a ver com o despacho de vagas e, neste ponto, assumiu esta responsável, o documento, "de alguma forma, mantém a tendência dos anos anteriores" de não prejudicar o nterior do país.
Isto, porque, o despacho do Governo "tem tido sempre esta questão da coesão, [de] não aumentar as vagas do litoral, para não prejudicar o interior, porque é sabido que há uma tendência dos alunos para ingressarem nas instituições do litoral".
"Tem ali uma ou outra sugestão, mas nada de relevante, até entendemos que o despacho de vagas este ano saiu mais cedo e há uma organização diferente que é positiva", destacou.
Maria José Fernandes evidenciou ainda a decisão, de há uma semana, de os institutos politécnicos poderem ministrar doutoramentos, o que, no seu entender, "vai conseguir atrair" pessoas e "vai conseguir estar mais ligado às empresas".
"Porque a população mais qualificada, no nível mais alto que é o dos doutoramentos, poderá ser ministrada aqui e não ter que ir para as instituições, neste caso as universidades, que, neste momento, são as únicas que podem ministrar doutoramentos", apontou, referindo que e estas se concentram no litoral do país.
Na receção que o presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, fez ao CCISP, ao final da manhã de hoje, além de o "parabenizar por esta velha conquista" de os politécnicos ministrarem doutoramentos, destacou o "contributo" que dão para "a coesão territorial, social e económica" do país.
Um contributo que o presidente do Instituto Politécnico de Viseu, José Costa, disse "só acontecer quando se trabalha em parceria com as instituições e autarquias" e, por isso, pediu a Fernando Ruas para "continuar a reivindicar fortemente, como tem feito, pela igualdade dos territórios".
Leia Também: Universidade de Coimbra lançou plataforma ligada às ciências planetárias
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com