Abdul Bashir, autor do ataque que vitimou mortalmente duas pessoas esta terça-feira, no Centro Ismaili, em Lisboa, terá dado conta das suas "condições de vida muito difíceis", apelando por auxílio, num vídeo publicado em outubro de 2021, na página da organização Red SOS Refugiados Europa.
Na altura com 27 anos, o jovem afegão revelou estar "refugiado na Grécia", onde, ao fim de "quatro ou cinco meses", perdeu a mulher num incêndio, em Lesbos.
"Passaram nove meses desde aquele acidente; agora vivo com os meus três filhos. As minhas condições de vida são muito difíceis", contou, enquanto as crianças brincavam, à sua volta.
Assegurou, além disso, ter "comunicado os seus problemas muitas vezes, por email, fax, e telefone, durante um ano", aos serviços de asilo da União Europeia (UE), e garantiu saber "escrever um email, falar inglês" e ser "licenciado em Engenharia de Telecomunicações".
"Aqui, toda a gente me diz para esperar, esperar, esperar...", desabafou, enquanto um ecrã preto surgia na imagem.
Há cerca de um ano que Abdul Bashir estava em Portugal, com os três filhos menores, de 9, 7 e 4 anos. Segundo o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, "tratava-se de um cidadão beneficiário do estatuto de proteção internacional", levando uma vida "bastante tranquila".
O governante apontou ainda que o jovem beneficiava do apoio da comunidade ismaelita, no ensino de línguas, no "cuidado alimentar, cuidado com as crianças" e "não tinha qualquer sinalização que justificasse cuidados de segurança".
Contudo, esta terça-feira, assassinou Mariana Jadaugy, de 24 anos, e Farana Sadrudin, de 49 anos, depois de ter agredido um outro professor do Centro Ismaili, que se encontra em estado grave no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O suspeito, que foi detido e baleado na zona da anca pela Polícia de Segurança Pública, foi transportado para o Hospital de São José, onde foi submetido a uma cirurgia. Neste momento, encontra-se “estável”, devendo permanecer internado durante algum tempo, devido à natureza dos ferimentos.
Por seu turno, o presidente da Associação da Comunidade Afegã em Portugal, Omed Taeri, avançou que o jovem contactou a entidade por via telefónica, informando que "ia procurar um trabalho e não sabia com quem deixar os filhos". Terá mostrado "sinais de ansiedade e desespero", razão pela qual Taeri considerou que “este caso é um caso isolado porque este senhor teve problemas psicológicos”.
"Não podemos julgar a comunidade inteira por causa de um caso isolado”, sublinhou.
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