Na "Guiné-Bissau, todo o mundo quer ir para Portugal"

João P. viveu anos na região de Lisboa, regressou à Guiné-Bissau depois de ter estudado liderança em projetos de desenvolvimento no Zimbabué e hoje é pago por guineenses como intermediário para agendar pedidos de visto para Portugal.

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© Xaume Olleros/Bloomberg via Getty Images

Lusa
07/04/2023 22:37 ‧ 07/04/2023 por Lusa

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"Não faço nada de ilegal, presto um serviço", começou por dizer João P., nome fictício, depois de aceder falar com a Lusa para explicar como se processa o serviço, que tem gerado muita polémica devido às dificuldades de agendamento na empresa VFS Global, empresa internacional contratada pelo Estado português para preparar os pedidos de visto.

Em Bissau, capital da Guiné-Bissau, é comum ouvir os guineenses lamentarem as dificuldades para fazerem um agendamento online naquela empresa, alguns dos quais dizem estar a tentar há pelo menos dois anos.

As dificuldades são a oportunidade de negócio para João P. e outros jovens, que começaram a tratar dos agendamentos online de todos aqueles que recorrem aos seus serviços mediante pagamento.

João P. explicou à Lusa que se trata de estar sempre "em cima da página da VFS" e à porta da empresa em Bissau, e assim que são disponibilizadas vagas de agendamentos para os variados vistos, os intermediários procedem à marcação dos seus clientes.

As pessoas têm a sua vida, trabalham, estudam e andam ocupadas e, portanto, quando é anunciado a abertura de agendamentos não o vão logo fazer e quando tentam já não conseguem, justificou.

João P. tem um escritório montado com funcionários que estão sempre atentos e assim que abrem vagas conseguem fazer vários agendamentos em simultâneo com base na lista dos seus clientes.

"Uma vez abriram à hora de almoço, estava num restaurante, e deixei o prato. Voltei para pagar mais tarde", disse, explicando que está sempre no telemóvel a controlar o processo.

João P. cobra 150.000 francos cfa pelo serviço (cerca de 229 euros), que inclui o agendamento e verificação de todos os documentos necessários para apresentar na VFS, e garantir que os interessados estão presentes no dia do agendamento, acompanhando-os até à porta.

No fundo, João P. faz para a VFS, de forma informal, aquilo que a VFS faz para Portugal, disse.

A partir do momento que entram na VFS, o seu trabalho com aquele cliente terminou.

Questionado sobre a razão pela qual tem tantos clientes, João P. explicou que há várias razões, nomeadamente as dificuldades dos guineenses para preencherem formulários e lidarem com a burocracia, a falta de acesso das pessoas à Internet e a sua iliteracia informática, "preguiça mental" e a "falta de confiança" das pessoas, que acham que não conseguem tratar destes assuntos.

"Também já ajudei pessoas, sem lhes cobrar nada", afirmou João P, sublinhando que está a prestar um serviço como outro qualquer.

Mas, o intermediário também faz críticas aos guineenses, que dão contactos a que não têm acesso direto, nomeadamente de email, quando se faz o agendamento na VFS Global.

Ou seja, muitas vezes queixam-se, mas foi-lhes enviado um email com alterações ou a pedir outras informações, que não viram ou já lhes telefonaram e nem sequer atenderam o telefone.

"Muitas vezes quando estou a tratar de um cliente peço o email e não têm e dão o email do primo, do amigo, a que depois não têm acesso", afirmou.

João P. disse que na "Guiné-Bissau, todo o mundo quer ir para Portugal", lembrando que no país não há educação, saúde e emprego e o pouco trabalho que há é mal pago "pelos patrões".

"Em Portugal trabalha-se no duro, mas os patrões pagam", afirmou.

A Lusa tentou falar com o responsável da VFS Global, em Bissau, mas sem sucesso.

Leia Também: Guiné-Bissau com atrasos nos vistos para Portugal: "É preciso pagar"

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