Após as denúncias de assédio sexual feitas por três ex-investigadoras do Centro de Estudos Sociais (CES), órgão de investigação ligado à Universidade de Coimbra, o presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) remeteu o caso para as entidades de direito, confessando-se "surpreendido" pelo 'timing' das denúncias.
Em entrevista à CNN Portugal, João Pedro Caseiro recusou falar em "branqueamento de situações" ou ocultamento de denúncias de assédio sem provas nesse sentido, pedindo antes a atuação das autoridades no esclarecimento do caso.
"Se houve algum tipo de branqueamento das situações, não posso dizer, não tenho autoridade para tal. Creio que o que é de justiça tem de ser resolvido em justiça, as entidades de direito é que têm de atuar neste tipo de ocasião. O nosso posicionamento como associação académica é de abertura, para os nossos colegas poderem abordar-nos nestes casos e noutros semelhantes, e para que possamos prestar o devido acompanhamento e encaminhamento", disse o estudante.
Caseiro garantiu que a AAC está preocupada com o assédio sexual na academia, fazendo um "paralelismo com o que aconteceu há cerca de um ano", referenciando o caso na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa. Para o presidente da AAC, a questão "não deve ser ignorada, e a constituição de uma comissão externa para avaliar aquilo que efetivamente aconteceu é sempre algo vantajoso e bem feito".
"Não quer dizer que vá resolver os problemas, a verdade é que não é apenas com uma comissão que esta problemática desaparece ou que estes casos são revertidos, mas acho que é um passo em frente e é algo que tinha de ser feito por parte do CES", defende.
De recordar que, na terça-feira, um artigo de três investigadoras, publicado numa importante editora científica, denunciou situações de assédio sexual no CES envolvendo o professor catedrático e sociólogo Boaventura Sousa Santos.
No artigo, intitulado 'The walls spoke when no one else would' (do inglês 'As paredes falaram quando mais ninguém o fez'), as investigadoras Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya, que passaram pelo CES, falam de uma experiência de "abandono institucional" perante as denúncias e de uma estrutura de poder silenciadora no interior da instituição, que abafava casos de abuso e de conduta inapropriada.
Entretanto, o CES anunciou que será constituída uma comissão independente, para identificar as "eventuais falhas institucionais e a averiguação da ocorrência das eventuais condutas anti-éticas referidas naquele capítulo".
Questionado sobre a altura em que surgem as denúncias - o artigo faz parte de um livro científico que explora, de forma muito alargada, o assédio sexual no mundo académico internacional -, João Pedro Caseiro considerou que "é sempre importante que as denúncias sejam feitas num 'timing' adequado e de forma formal".
"Não sabemos o que as pessoas estavam a passar, não sabemos o que estavam a sentir, que pressões poderiam também sentir, não faço julgamentos atendendo ao teor sobre a forma como a denúncia foi apresentada. Foi uma forma diferente, mas não sei as circunstâncias em que estas ocorreram", admitiu o presidente da associação de estudantes, acrescentando que a forma como as denúncias foram feitas "surpreenderam um pouco".
Caseiro apontou ainda que não chegaram quaisquer denúncias de casos de assédio à AAC, mas salientou que a associação tem uma equipa preparada para receber e tratar desses casos.
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