"Também no nosso país, sentimos os efeitos desta crise que se adensa sobre a vida de uma grande parte de famílias e se reflete na dificuldade de acesso aos meios elementares de vida, como a alimentação, a habitação e a saúde, para além de aumentar a tensão social", disse o bispo de Leiria-Fátima, na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP.
Segundo José Ornelas, "são de louvar todos os esforços que vão ao encontro dos mais frágeis, tanto por parte do Governo, como de entidades públicas e privadas, entre os quais muitas paróquias e outras instituições da Igreja".
Para o prelado, no entanto, "além da legítima afirmação de diversidade de soluções para os problemas, a sociedade precisa igualmente que se busquem caminhos com um horizonte temporal que vá para além do imediato e que possam capacitar as pessoas com menos recursos individuais, sociais e financeiros".
"A ajuda de emergência é fundamental e a Igreja sabe bem disso, mas é preciso ousadia, coragem e rasgo para equacionar soluções de médio e longo prazo, que mitiguem a vulnerabilidade e a exposição a fatores conjunturais que penalizam sempre os mais pobres", disse o presidente da CEP na sua intervenção.
José Ornelas referiu-se ainda a "questões cruciais que são objeto de grande preocupação, tanto a nível nacional como internacional", com destaque para a guerra "causada pela invasão da Ucrânia" e que "constitui uma das maiores preocupações do momento".
"A enorme perda de vidas humanas, onde se incluem milhares de civis, muitos dos quais crianças, a destruição intencional de meios de habitação e de vida que sustentam populações inteiras e causam o êxodo forçado de milhões de inocentes, formam um cenário bárbaro que julgávamos ultrapassado no nosso continente e que apela à nossa solidariedade e à nossa oração e ação solidária pela paz, com justiça e dignidade para todos", afirmou o bispo.
Para o líder da CEP, que esta semana pode ser reeleito para um segundo mandato, "as consequências deste e de outros conflitos espalhados pelo mundo têm um efeito devastador a nível mundial, agravando a situação já ameaçadora da deriva climática e figuram como uma das principais razões da atual crise económica, que atinge particularmente as populações mais desfavorecidas e faz aumentar dramaticamente as vagas de migrantes em busca de segurança elementar de sobrevivência física e económica que garantam o futuro das próprias famílias".
A continuidade ou não de José Ornelas à frente da CEP é um dos temas que vai dominar o início dos trabalhos desta Assembleia Plenária do episcopado, que se prolonga até quinta-feira, em Fátima.
José Ornelas chega agora ao fim do primeiro mandato de três anos, podendo ser reconduzido por igual período. Nas últimas semanas têm surgido algumas notícias que dão conta da sua alegada indisponibilidade para continuar no cargo.
O desgaste provocado por três anos de mandato marcados pela pandemia de covid-19 e pela questão dos abusos sexuais na Igreja, estará na base de uma eventual não recandidatura de José Ornelas. Também o facto de terem surgido notícias sobre alegado encobrimento de casos de abuso, enquanto superior dos Dehonianos, estará a contribuir para a possível não continuação de José Ornelas como presidente da CEP.
Caso não seja eleito para novo mandato, ficará, no entanto, como tendo sido sob a sua presidência que a CEP se decidiu pela criação da Comissão Independente que, ao longo de um ano, recolheu os testemunhos de alegadas vítimas de abuso no seio da Igreja, no que foi encarado como passo decisivo para o encarar de frente do problema.
Os nomes dos arcebispos de Braga (José Cordeiro) e de Évora (Francisco Senra Coelho), bem como o do bispo de Coimbra (Virgílio Antunes) têm sido apontados como possíveis candidatos se José Ornelas confirmar indisponibilidade para continuar.
Além da eleição do presidente da CEP, serão eleitos também os restantes membros do Conselho Permanente e os presidentes das diferentes Comissões Episcopais.
Novidade é a possibilidade de, pela primeira vez, poder ser eleito para a função de secretário da CEP um leigo, após a revisão dos estatutos aprovados pela Santa Sé no dia 30 de março último.
Em destaque nos trabalhos desta reunião plenária do episcopado católico português vai estar, também, a constituição do organismo que substituirá a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, e que será coordenado pela psicóloga forense Rute Agulhas, que integra a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa.
Em 03 de março, os bispos portugueses, após uma reunião destinada a analisar o relatório da Comissão Independentes, anunciaram a disponibilidade para criar "um grupo específico, que será articulado com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis", que é liderada pelo antigo procurador-geral da República José Souto Moura.
A Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.
Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente do ministério alguns padres.
Entretanto, na quinta-feira, último dia da Assembleia Plenária da CEP, os bispos celebram a eucaristia pelas 11:00, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, no contexto da jornada nacional de oração pelas vítimas de "abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja".
Este momento de pedido de perdão público às vítimas fora já anunciado pela CEP, em 03 de março
Também a preparação da Jornada Mundial da Juventude, agendada para o início de agosto em Lisboa, com a presença do Papa, estará em cima da mesa de trabalhos dos bispos católicos portugueses na próxima semana, em Fátima, bem como o processo sinodal ou o centenário do Corpo Nacional de Escutas.
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