Bloco está "a recuperar", um partido que "nunca hesitou em correr riscos"
Depois do desaire eleitoral das últimas legislativas, a coordenadora bloquista, Catarina Martins, vê o BE "a recuperar" e defende que "o Bloco é a força política que nunca hesitou em correr riscos para responder ao povo".
© Presidência da República
Política Catarina Martins
Depois de uma década à frente do BE, durante a qual levou o partido aos seus melhores resultados, mas também a um dos piores nas legislativas de 2022, Catarina Martins vai passar o testemunho, este fim de semana, na XIII Convenção Nacional do partido, em Lisboa.
Em entrevista à Lusa, a ainda coordenadora defende que, depois de o partido ter ficado reduzido a cinco deputados, "o Bloco de Esquerda está a recuperar e isso sente-se muito" quer nas sondagens -- um campo que não considera "o mais seguro" -, mas sobretudo na "interlocução com as pessoas".
"Há muita gente que, com medo da direita e da extrema-direita, votou no PS e hoje está arrependida da maioria absoluta. E há muita gente que, não tendo compreendido porque é que o BE votou contra os últimos orçamentos do PS, hoje, que vive as consequências desses orçamentos, percebe que tínhamos razão, percebe que o BE não podia nunca votar este rumo que está a ser desastroso para o país", exemplifica.
Para Catarina Martins, a credibilidade do seu partido, que considera vir da coerência, "é fundamental e é o maior instrumento para o Bloco de Esquerda crescer".
"O Bloco é a força política que nunca hesitou em correr riscos para responder ao povo e eu acho que isso é muito importante. Pusemos sempre à frente das nossas decisões a coerência da proposta sobre as condições concretas de vida das pessoas", sublinha.
Recordando os "momentos mais difíceis" em que foram tomadas decisões que o partido sabia que o podia penalizar, a líder bloquista assegura que "nunca houve ninguém na direção do Bloco de Esquerda que achasse que, por um motivo oportunista, partidário, valia mais fazer o que estava politicamente errado".
"Isso faz-me sentir muito bem onde estou", afirma.
Para Catarina Martins, há um "desafio tremendo" de que "o debate político no país seja sobre o que é mais importante".
Na análise da ainda deputada, "a direita fará tudo", e o PS tem ajudado, para que o debate político seja sobre assuntos laterais ou confusões" que, apesar de envergonharem todos os portugueses, "não são o cerne da escolha política em Portugal".
Sobre o período da sua liderança, a bloquista recorda que foi complicado tomar a decisão de fazer o acordo da geringonça de 2015 - mas que "era absolutamente necessário fazer" apesar das suas limitações - e também foi complicada "a decisão de votar contra os orçamentos do PS, numa altura em que ainda existia alguma expectativa popular que fosse possíveis entendimentos à esquerda".
"Não há arrependimentos à posteriori. A frustração com o que não se consegue fazer não é igual a arrependimento, são só lições para o que temos de fazer a seguir", responde.
Em relação a momentos importantes desta década de liderança, Catarina Martins destaca a aprovação da adoção por casais do mesmo sexo e a votação da lei da despenalização da morte medicamente assistida antes do final do seu mandato, tendo conseguido "fazer uma luta em que João Semedo também se envolveu tanto e que queria que ficasse bem resolvida".
Em relação ao PCP, Catarina Martins assume que "há distâncias notórias e que mesmo os acordos em tantas matérias não apagam".
"Creio, no entanto, que ganhávamos se houvesse uma política de mais articulação em matérias onde estamos de acordo e tenho pena que isso não seja possível, mas enfim, é da vida. Ainda assim, é sinal que nos momentos necessários a convergência aparece", enfatiza.
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