Marcelo em África de Sul para 10 de junho. "É uma honra muito grande"

Os portugueses na África do Sul olham para a visita do Presidente e primeiro-ministro de Portugal como uma oportunidade de reforçar a identidade da comunidade no 10 de Junho e lutar pelo futuro do país de acolhimento.

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Lusa
04/06/2023 14:29 ‧ 04/06/2023 por Lusa

País

Emigrantes

uma honra muito grande", declarou à Lusa, emocionado, o escuteiro lusodescendente André Domingues, de 17 anos, após ter hasteado a bandeira ao ritmo da Portuguesa na coletividade Luso África, no leste de Joanesburgo.

Nem a brisa de inverno que soprou das minas de ouro em direção à coletividade lhe abanou o sentimento: "Ser português é estar muito voltado para a família, há muita conexão de alma na comunidade portuguesa".

"Para mim é uma cultura muito feliz, conectada e confiável, e a comida é incrível", sublinhou o estudante de 12º Ano, que visitou pela última vez os avós na região norte de Portugal quando tinha quatro anos.

André, que participa também com o irmão Sérgio, de 21 anos, no grupo folclórico local Terras do Norte, teve este ano a honra de hastear a bandeira na sua coletividade, um oásis da cultura portuguesa em Primrose, subúrbio da cidade de Germiston, antiga "capital do têxtil" do país, onde se situa desde 1920 a Rand Refinery, uma das maiores refinarias de ouro e fundição de metais preciosos do mundo.

Hoje, são pedras que falam em português e nos últimos anos a coletividade portuguesa tem produzido vários talentos do futebol nacional sul-africano, tendo acolhido também a atleta moçambicana Maria de Lurdes Mutola, ex-campeã olímpica e recordista mundial.

É tradição o agrupamento de escuteiros 1.º São Jorge hastear a bandeira portuguesa no dia 3 de junho para assinalar o início das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas, na África do Sul, juntamente com mais de 45 associações lusas sediadas no país africano.

Para a mãe de André, Olinda Domingues, 53 anos, natural de Joanesburgo e quadro superior na banca sul-africana, a bandeira representa uma "herança" que gostaria de passar aos seus três filhos como testemunho.

"É a minha herança que os meus pais me deram, tenho muito orgulho em ser portuguesa, vivendo aqui na África do Sul, de continuar a nossa cultura e de transmitir [esses valores] aos meus filhos para que continuem no futuro", salientou, frisando que a visita de Marcelo "diz que pelo menos o Presidente pensa em todos nós, os emigrantes, a viverem fora do nosso país com saudades do nosso país".

"Podiam vir visitar-nos mais vezes, e dar-nos apoio que falta muito", vincou Olinda.

Continuar a lembrar aos jovens a herança portuguesa é o significado desta cerimónia no 10 de Junho, salientou à Lusa, Amândio Cordeiro, de 53 anos, natural de Angola, chefe do agrupamento 1º São Jorge, fundado em 1977 por escuteiros portugueses aqui chegados de Moçambique.

"Ser português é continuar os nossos valores comunitários, e lembrar que há aqui muito português que não é rico, que precisa de auxílio e é o nosso dever assistir onde podemos", adiantou.

Gabriela Ferreira, de 21 anos, acrescentou: "Diria que é uma família, é parte da minha cultura, ser português é fazer parte desta família maravilhosa que estará sempre ao nosso lado e é bom ter alguém por perto para celebrar estas maravilhosas celebrações e ter tantas tradições maravilhosas sobre a comunidade portuguesa".

A jovem lusodescendente disse que conhece Portugal apenas da televisão e das histórias contadas pelos avós, mas que já tem uma certeza: "Acho que definitivamente gostaria de ir para Portugal, faz parte de quem eu sou, faz parte da minha cultura, definitivamente que gostaria de ir emigrar para Portugal e possivelmente estudar lá e encontrar trabalho lá".

"É muito importante celebrar o orgulho de ser português, continuar a nossa tradição, e lembrar as nossas raízes, de onde é que a gente vem", salientou Cláudio Melo, de 20 anos, estudante de aeronáutica comercial com a perspetiva de emigrar também para Portugal.

"Quando é o Dia 10 de junho, ficamos mais aconchegados à nossa nacionalidade, o ser português, à nossa pátria", contou o pai, Joaquim Melo, que preside à coletividade.

"Estou feliz com a nossa colaboração, todos juntos. Tenho orgulho naquilo que sou, português", apontou.

Mas aqui, no leste de Joanesburgo, onde o ex-Presidente Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu começaram por construir de braço dado um "Arco-Íris" há 30 anos, a bandeira portuguesa que se arvorou neste fim de semana entre as "colinas de ouro" de Primrose, ao longo de um mastro próximo a duas espécies de igual dimensão do sentimento luso - um pinheiro manso e um carvalho -, representa o esforço erguido por várias gerações de portugueses na industrialização da África do Sul agrária desde os anos 1960.

"É o orgulho dela [bandeira] ser içada num país onde temos uma comunidade numerosa da qual Portugal se deve orgulhar", referiu Alexandre Santos, que lidera a Federação das Associações Portuguesas da República da África do Sul (FAPRAS).

"Vindo cá o Presidente e o Primeiro-Ministro com vários ministros, é aquele símbolo de que Portugal ainda existe aqui", frisou, por seu lado, o arquiteto Gilberto Martins, quadro do ANC Governante, acrescentando que "é um símbolo bom para a África do Sul, é um símbolo de esperança para os nossos portugueses".

Para Paulo Milho, de 52 anos, este sentimento que se valoriza fora do país "é o patriotismo". Quando "estamos no estrangeiro sentimo-nos mais orgulhosos ao comemorar o dia de Portugal, e sentimos no sangue a nossa pátria", referiu o dirigente da Associação Portuguesa de Vanderbijlpark, que viajou 82 quilómetros para "fazer o dever de estar presente".

"Não é fácil reviver todos estes momentos, são muito anos, as dificuldades foram várias, no princípio foi duro integrar num país onde não falávamos a língua", explicou José Contente, de 71 anos, dirigente da União Portuguesa de Joanesburgo, emigrante veterano há 67 anos em África com uma guerra colonial pelo meio, militar em Cabo Delgado "até à entrega da bandeira portuguesa à Frelimo".

"Trabalhámos arduamente nas nossas especialidades, aqui criámos o nosso futuro e temos os nossos descendentes, ter cá o nosso Presidente que finalmente reconheceu que nós estamos aqui sozinhos há bastante tempo é uma sensação muito agradável, espero dizer-lhe pessoalmente "Welcome Mr. President!", concluiu.

Leia Também: Do Cabo a Pretória, Marcelo visita África do Sul a partir de 2.ª-feira

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