A vida de Jéssica - que morreu com 3 anos - nunca foi a que se espera para uma criança. A relação dos pais seria pautada por violência, o que motivou a abertura, em 2019, de um processo de promoção e proteção da menina. Mas este foi arquivado e de nada valeu para impedir a morte da criança, tampouco os dias infernais que viveu em casa de 'Tita', a alegada ama que nunca se comportou como tal.
Foi brutalmente agredida, violada e teve até pedações de cabelo arrancados. Foi entregue à mãe, já moribunda, a 20 de junho de 2022. Segundo o Ministério Público, a autópsia identificou 125 ferimentos no seu pequeno corpo.
Quando o INEM chegou ao local onde estava Jéssica, encontrou a menina em paragem cardiorrespiratória. Foi de imediato transferida para o hospital, mas Jéssica não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer.
Inês Sanches, a mãe da menina que foi morta em Setúbal devido aos maus-tratos que lhe foram infligidos durante vários dias, quando estava ao cuidado de uma suposta ama, é uma das arguidas no processo, acusada dos crimes de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificada, por omissão.
Inês Tomás Sanches terá ignorado deliberadamente os sinais de sofrimento da filha, e demorado horas a prestar-lhe apoio. Tê-la-á deixado no quarto sozinha cinco horas até pedir ajuda.
A falsa ama, Ana Pinto, o marido, Justo Ribeiro Montes, e a filha, Esmeralda Pinto Montes, que, além dos maus-tratos infligidos à menina, também terão usado a pequena Jéssica como correio de droga, estão acusados de homicídio qualificado consumado, rapto, rapto agravado e coação agravada.
Estes três arguidos, bem como outro filho de Ana Pinto, Eduardo Montes, estão ainda acusados de um crime de violação agravado e de um crime de tráfico de estupefacientes agravado.
O despacho de acusação do Ministério Público refere vários episódios de agressões à menina por parte de Ana Pinto, Justo Ribeiro Montes e Esmeralda Pinto Montes, que a retiveram na sua casa para garantir o pagamento de uma dívida da mãe, Inês Sanches, relacionada com um pedido de bruxaria para melhorar a relação com o companheiro.
A pequena Jéssica terá estado a cargo da alegada ama durante cinco dias até ser devolvida à mãe, cerca das 10h00 do dia 20 de junho de 2022, numa altura em que já não reagia a qualquer estímulo. Ainda assim, os acusados terão dito à mãe que assim que a menina melhorasse, ela devia devolvê-la.
A mãe da Jéssica, Inês Sanches, já após ter sido acusada, pediu para ser sujeita a uma perícia psiquiátrica para atestar a sua eventual imputabilidade reduzida, mas esse pedido foi recusado pelo juiz do processo.
A primeira sessão do julgamento de cinco pessoas acusadas de envolvimento no homicídio da menina de 3 anos, em 20 de junho do ano passado, está marcada para esta segunda-feira, 5 de junho, no Tribunal de Setúbal.
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