Os sócios que estão a tentar travar judicialmente a alientação de património, alegadamente para colmatar tais dificuldades, acusam a direção de usar esta "ameaça" como forma de pressão.
"Pode ser uma possibilidade entregar, alguém há de continuar", admitiu o presidente António Bessa, em declarações à Lusa.
À margem do início do julgamento onde sócios tentam travar a venda de património, avaliado em seis milhões de euros, aquele responsável lamentou os "engulhos" e obstáculos que a Instituição de Solidariedade Particular de Solidariedade Social (IPSS) tem enfrentado, referindo-se aos vários processos judiciais, onde se inclui o que hoje teve início no Tribunal da Comarca de Matosinhos.
António Bessa, que assumiu a direção do Lar do Comércio em janeiro de 2021, revelou ainda à Lusa que a instituição tem um buraco financeiro de mais de um milhão de euros, 150 mil euros/mês, que não consegue solucionar sem a venda de imóveis.
No sábado, várias publicações avançavam ser intenção da IPSS, já comunicada aos utentes, de aumentar o valor das mensalidades para 1.800 euros, informação confirmada hoje à Lusa pelo seu presidente que admitiu, contudo, que as situações vão ser estudadas caso a caso.
"Não é possível nos tempos de hoje manter as mensalidades que praticamos", disse.
Reconhecendo que o lar funciona sem licença para Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) e sem certificado de segurança contra incêndios, António Bessa descreveu um espaço a necessitar de obras de grande dimensão e para as quais, adianta, são necessários cerca de 20 milhões de euros.
O objetivo é o de criar condições mais adequadas aos utentes, mas também transformar o espaço para permitir uma divisão (80-120) entre utentes comparticipados e utentes privados, projeto que já existe e que "embateu" na Segurança Social, disse.
Presentes na sessão de julgamento de hoje, o grupo de sócios que tem denunciado ao Ministério Público suspeitas de maus-tratos e de irregularidades, classificou estas declarações como uma forma de pressão sobre a Segurança Social e o próprio tribunal, lamentando que a direção não tenha demonstrado abertura para reunir e discutir os problemas da instituição.
À Lusa, Raul Rodrigues afirmou que os associados continuam disponíveis para contribuir para a solução, deixando claro que "tudo farão para salvar o Lar do Comércio".
Considera, contudo, que os sócios têm de ser informados com clareza sobre a real situação financeira do lar -- que desconhecem -- e sobre as decisões da direção, como é o caso da venda de património avaliado em cerca de seis milhões de euros.
Acrescenta inclusive que os sócios aceitariam que fosse vendido património desde que conhecendo as condições em que se encontra este edificado, os custos da sua manutenção e para que fins. Teria ainda de ser garantido que todo o dinheiro ia ser investido na instituição e no bem-estar dos utentes.
Recusando passar um cheque em branco à direção, Raul Rodrigues considera, contudo, que o momento em que foi conhecida a intenção de aumentar as mensalidades para 1.800 euros e a possibilidade de encerramento a 31 de agosto, a dois dias do início do julgamento para travar a venda de património do lar, teve como intenção exercer pressão sobre as entidades públicas.
"É uma forma de pressão sobre toda a gente, nomeadamente sobre a Segurança Social, sobre os sócios e tribunal. Acho que já toda a gente já percebeu que aquilo que eles querem é privatizar aquilo", disse.
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