Diana Pereira, a médica interna que denunciou casos de más práticas no serviço de cirurgia do Hospital de Faro, anunciou esta quarta-feira a sua demissão do Hospital de Portimão, onde estava colocada no âmbito do Centro Hospital Universitário do Algarve (CHUA).
Numa publicação no Instagram, a médica confessou que chegou a considerar a demissão bem mais cedo, quando denunciou os casos em abril, mas decidiu continuar o internato em Portimão. "Demiti como já queria fazer desde o dia da queixa, mas decidi dar o benefício da dúvida a um novo estágio", começa por dizer.
Salientando que em Portimão encontrou um serviço "organizado e com bons profissionais", Diana Pereira esclarece que a decisão é muito baseada no impacto na sua saúde psicológica que a queixa contra o serviço de cirurgia teve.
"A exposição da queixa e todas as represálias que se lhe seguiram têm mexido com a minha saúde mental. Podia continuar a fingir-me de forte até colapsar mas por saber priorizá-la prefiro resguardar-me já”, explicou a médica interna, concluindo que precisa de "descansar", estar com os seus, "estudar e orientar" a sua "carreira e o futuro".
A médica denunciou onze casos de más práticas no serviço de cirurgia de Faro, queixando-se à Polícia Judiciária de "negligência". Segundo Diana Pereira, dos onze casos reportados, três dos doentes morreram, dois encontravam-se internados nos cuidados intermédios e os restantes apresentavam lesões corporais na sequência dos procedimentos médicos. A profissional de saúde também já prestou declarações ao Ministério Público sobre o caso.
Entretanto, a Ordem dos Médicos anunciou no início de junho que dois dos cirurgiões implicados nas queixas foram suspensos preventivamente devido a "fortes indícios de má prática", enquanto continuam os inquéritos e investigações aos casos.
Diana Carvalho Pereira conta ainda que sai do Hospital de Portimão, do qual não tem "mesmo nada de mal a apontar", por sentir que o estabelecimento "já tem internos que chegue para a carga de trabalho".
"Acresce também que não tinha verdadeiramente um orientador, era distribuída pelas várias equipas mas sem alguém responsável por me orientar no trabalho do dia-a-dia e formar-me como interna", lamenta, dando conta ainda da influência da indecisão em torno do CHUA e da cidade nova em que não conhecia ninguém, "numa fase complicada" da sua vida.
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