Armando Pereira, cofundador do grupo de telecomunicações Altice, vai ser ouvido pelo juiz de instrução criminal Carlos Alexandre neste sábado, após ter sido detido, na quinta-feira, por suspeitas de ter lesado o Estado - e a própria empresa - em mais de cem milhões de euros.
Em causa está a alegada simulação de negócios, bem como a alegada ocultação de proveitos na venda de património imobiliário da antiga PT.
Segundo concluiu a investigação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, terão sido cometidos crimes de corrupção, branqueamento, fraude fiscal e falsificação, bem como a "viciação do processo decisório do grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência".
A investigação indica também a existência de indícios de "aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira" através da domiciliação fiscal fictícia de pessoas e empresas. Entende o MP que terão também sido usadas sociedades offshore, apontando para os crimes de branqueamento e falsificação.
Realizaram-se, então, "cerca de 90 buscas, domiciliárias e não domiciliárias - designadamente a instalações de sociedades e escritórios de advogados - em diversas zonas do país", nos dias 13 e 14 de julho. A investigação durou cerca de 3 anos.
Dessas buscas, que passaram, também, pela sede da Altice, resultou a apreensão, entre outros bens, de "viaturas de luxo e modelos exclusivos com um valor estimado de cerca de 20 milhões de euros", que são "representativos do resultado" dos crimes de que Pereira é suspeito.
Segundo a CNN Portugal, um dos negócios visados pela investigação é a venda de quatro prédios em Lisboa, cujo valor total ascendeu a cerca de 15 milhões de euros, com os compradores a serem associados a um meio empresarial montado em Braga, na Zona Franca da Madeira e no Dubai.
Na quinta-feira, quando confirmou a ocorrência das buscas, a Altice garantiu que está a "prestar toda a colaboração que lhe é solicitada", garantindo que "estará sempre disponível para quaisquer esclarecimentos".
Armando Pereira trocou, assim, a sua quinta em Guilhofrei, Vieira do Minho - que foi também alvo de buscas - pelo estabelecimento prisional anexo à Polícia Judiciária, em Lisboa. Deveria ter sido ouvido na sexta-feira, mas tal não aconteceu devido a uma greve dos oficiais de justiça.
O homem, natural de Braga, que conta uma fortuna estimada em 1.600 milhões de euros, criou, junto do empresário Hernâni Vaz Antunes - também investigado pela Justiça, que se encontra em parte incerta -, uma extensa rede de fornecedores e sociedades que se associaram à Altice Portugal, e que chamaram a atenção das autoridades.
Álvaro Gil Loureiro, administrador ligado a Hernâni Vaz Antunes, e uma das filhas deste empresário, Jéssica Antunes, foram também detidos no âmbito desta operação, avançou ainda a SIC.
A própria Altice anunciou que "já deu início" a uma investigação interna relacionada com os processos de compras e os processos de aquisição e venda de imóveis da subsidiária portuguesa, bem como de todo o grupo.
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